Título: ONS poderá acionar térmicas para abastecer país vizinho
Autor: Rocha, Janes e Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 04/07/2007, Brasil, p. A3

O pedido do presidente Néstor Kirchner para que o Brasil aumente as exportações de energia elétrica para a Argentina poderá levar o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a acionar as térmicas de Santa Cruz, Piratininga, Igarapé, Alegrete, Arjona, Uruguaiana e Cuiabá. Essas usinas podem gerar energia usando óleo combustível, diesel ou querosene de aviação. A energia produzida por elas, porém, é mais cara já que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou os agentes a estipularem valor mais alto do que o nacional para a energia destinada à exportação.

Na Argentina, o preço da energia já está alto. Até às 17h de ontem o megawatt hora (MWh) apresentava variação, nas 24 horas anteriores, de 330 pesos (cerca de US$ 110) no horário de menor consumo a 571 pesos (cerca de US$ 190,3) no horário de ponta.

O Brasil vai ajudar a Argentina com todos os "recursos disponíveis" para aliviar a crise energética vivida pelo país vizinho, que começa a racionar eletricidade e gás de forma cada vez mais freqüente neste inverno, com impactos sobre a produção industrial. "O Brasil tem sempre se mostrado solidário com a Argentina nos momentos de necessidade. Coloca em operação os recursos que estão disponíveis e manda o máximo de energia que a Argentina consegue absorver", afirmou o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman. "Tem sido assim, e acho que isso faz parte da solidariedade entre países."

Para Kelman, a emergência argentina pode ter um aspecto positivo no longo prazo: a criação de regras para facilitar o comércio bilateral de energia. "Talvez esse evento crie condições para um arranjo, regras de intercâmbio entre os dois países mais duradouras e calcadas em bases comerciais", completou o diretor.

O ONS, a quem cabe coordenar a geração e transmissão de energia no país, ainda estuda como efetivar o aumento da produção de energia para exportação. As usinas brasileiras deverão ser acionadas com base na ordem de mérito de custo, desde que não sejam necessárias ao consumo interno. Apesar de o Brasil ter exportado uma média de 700 MW de energia diariamente para a Argentina nas últimas semanas, o volume baixou.

No domingo, só foram enviados para Argentina 469 MW pela estação Garabi II, da Companhia de Interligação Energética (Cien), e 72 MW via conversora de Rivera, no Uruguai. O volume aumentou para 593 MW na segunda-feira, mas ainda é menor que a meta estabelecida na reunião de sábado, em Buenos Aires, que discutiu o aumento do fornecimento de energia para a Argentina.

O volume caiu, porque aumentou o preço da energia no mercado spot brasileiro - refletindo custo maior da água dos reservatórios - o que provoca o acionamento de mais térmicas por mérito de preço. Existem também gargalos no sistema de transmissão argentino a partir da hidrelétrica de Yaciretá, na província de Corrientes. Dependendo do volume de energia gerada pela usina, não sobra capacidade de transmissão adicional que chegue a Buenos Aires.

Por essa razão, volumes e disponibilidades finais deverão ser definidos pelo ONS, no Brasil, e pela Compañia Administradora del Mercado Mayorista Eléctrico (Cammesa), que na Argentina faz às vezes do ONS e do antigo Mercado Atacadista de Energia (MAE).

Caberá à Cammesa fixar a quantidade de energia gerada por Yaciretá. Em seguida serão negociados preços. As donas das usinas terão que fechar contrato de aluguel das conversoras Garabi I e Garabi II com a Cien (do grupo Endesa), que por sua vez fechará contratos com a Cammesa. Considerando esses trâmites, fonte explicou ao Valor que ainda é cedo para saber se o volume de exportação chegará aos 1.080 MW pedidos pela Argentina.

"Estamos exportando atualmente 700 MW. Se houver disponibilidade de mais geração térmica no país, poderemos mandar mais energia. O limite está mais no sistema de transmissão da energia. De lá para cá, pode-se trazer até 2.000 MW. Daqui para lá, dificilmente passamos de 1.000 MW", completou o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner. Uma opção é enviar parte da energia através de Rivera, no Uruguai.