Título: Lula diz que volta ao Ceará para anunciar siderúrgica
Autor: Mandl, Carolina e Goes, Chico
Fonte: Valor Econômico, 04/07/2007, Política, p. A9

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva frustrou ontem as expectativas de seus aliados cearenses ao não anunciar um acordo entre a Petrobras e o governo estadual para o fornecimento de gás natural à siderúrgica Ceará Steel, mas foi enfático em dizer que se empenhará para que o empreendimento se viabilize. Lula indicou que pretende participar das negociações pessoalmente.

"Talvez eu venha aqui no começo do próximo mês para resolver isto definitivamente", disse o presidente dirigindo-se nominalmente ao governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), durante a solenidade de anúncio dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em saneamento e urbanização, em Fortaleza.

Lula disse ainda que queria assistir, como metalúrgico, à inauguração " desta tal siderúrgica que já me criou tanta dor de cabeça e já deixou tanta gente nervosa". O presidente ainda prometeu empenho para outros grandes projetos que beneficiam o Ceará e que estão semi-paralisados por uma série de razões, como a ferrovia Transnordestina e a transposição do rio São Francisco.

O impasse que subsiste é em relação ao preço do gás natural que seria fornecido à siderúrgica por vinte anos. Segundo Ivan Bezerra, presidente do Conselho Estadual de Desenvolvimento, cargo que no Ceará equivale ao de secretário de Desenvolvimento, "a questão está praticamente superada". De acordo com Bezerra, a Petrobrás, e o governo cearense fecharam em uma reunião na segunda-feira o valor de US$ 5 por milhão de BTU (unidade térmica britânica), preço bem superior aos US$ 3,2 demandados pela Ceará Steel, mas inferior aos US$ 5,8 pedidos pela Petrobras.

Para aceitar reduzir o valor do gás, a Petrobras teria incluído nos seus cálculos, segundo assessores do governo cearense , os investimentos feitos pelo Estado do Ceará na infra-estrutura do Porto de Pecém, como o gasoduto e um pier que ainda será construído, além de incentivos fiscais que a estatal recebe do governo cearense.

Bezerra confirma, entretanto, que a discussão não chegou ao fim, porque a discussão reside agora em outro ponto: a correção do contrato, que vale por 20 anos. Enquanto a Petrobras quer reajustá-lo pela variação do preço do petróleo, a empresa prefere usar o PPI (Producer Price Index), um índice de preços americano.

A expectativa do governo cearense é que o martelo só seja batido na quinta-feira da próxima semana. Petrobras e Ceará elaboraram um cronograma de trabalhos, fixando essa data como limite. Até lá, deverá ser definido o indexador de preços.

Na segunda-feira, o governador Cid Gomes (PSB) estava pouco esperançoso de que as negociações entre Petrobras e Ceará Steel tivessem um desfecho favorável até ontem, dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou o Estado para anunciar os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento.

"O problema não é mais em torno do preço, mas ainda existem pendências nas conversações", disse o Cid Gomes durante evento no Recife sobre a transposição do rio São Francisco. Apesar da pouca convicção de que Lula pudesse anunciar a siderúrgica ontem, o governador cearense fez questão de enfatizar o esforço do presidente para que a implantação do projeto. "Uma coisa precisa ficar clara. A negociação só andou por empenho pessoal do presidente Lula", afirmou.

Técnicos da Petrobras comentaram no Rio que mesmo o preço de US$ 5 seria muito "apertado" para a estatal, considerando as projeções de preço do gás. Em reserva, funcionários da estatal afirmam que a divergência sobre o critério de reajuste do petróleo envolve valores enormes quando colocadas na ponta do lápis. Considerando o apetite da indústria brasileira e do setor elétrico por mais gás nos próximos dez anos, a Petrobras considera que o acordo poderia garantir por vinte anos um recurso natural escasso a um preço diferenciado para dois grupos estrangeiros exportarem aço que vai melhorar a competitividade da indústria coreana.