Título: Teles disputam mercado de terceirização de informática
Autor: Moreira, Talita e Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 04/07/2007, Empresas, p. B3

Lá se foram os tempos em que as operadoras de telefonia se contentavam em oferecer apenas seus tradicionais serviços de rede. Discretamente, começa a entrar no radar da maioria das teles a oferta de serviços de terceirização completa de informática, uma tendência que, até agora, ficava praticamente restrita aos grandes fornecedores de tecnologia e consultoria, como Accenture, IBM e Unisys.

Com o propósito de aumentar a demanda por tráfego de voz e dados, manter o usuário dentro de casa e ampliar a oferta de serviços de informática, os operadoras decidiram assumir 100% das operações de tecnologia da informação (TI) do usuário. Desde o simples computador, passando por equipamentos como servidores, impressoras, roteadores e sistemas de conexão à internet, tudo é controlado pela empresa de telefonia. É um tipo de comodato, onde o usuário, em vez de comprar equipamentos, investir em pessoal e se preocupar com atualização de seus sistemas, paga apenas uma mensalidade. Quando não quiser mais o serviço, a operadora retira seus equipamentos e ponto final.

A Telefônica testou a estratégia por cerca de oito meses. Em janeiro deste ano, começou a fazer um piloto com o seu Posto Informático, um serviço que consiste da oferta conjunta de banda larga, manutenção e assistência técnica (dos equipamentos e dos serviços) e de computadores. O contrato mais simples sai por R$ 180 mensais, diz o vice-presidente do segmento de pequenas e médias empresas da Telefônica, Fabio Bruggioni. Dá direito a um computador, conexão à banda larga de 512 MBytes e seguro contra incêndio, furto e roubo do equipamento. Cada posto é um computador (portanto, há clientes que têm vários postos). "Existem desde clientes com cinco ou seis PCs até aqueles que têm 200", afirma o executivo.

De abril para cá o projeto entrou definitivamente em fase comercial, diz Bruggioni. Desde então já foram vendidos mais de 10 mil postos. A expectativa da operadora é que até o final do ano seja ultrapassada a marca de 40 mil postos instalados.

Os principais alvos são lojas, escritórios de advocacia, pequenos hotéis etc. A cada dois anos, a Telefônica substituirá as máquinas antigas por modelos novos. Os micros usados serão doados a escolas e instituições de caridade.

O estreitamento de TI e telecom começou a ganhar espaço há três anos na CTBC, operadora do Grupo Algar. Segundo Carlos Maurício Ferreira, diretor de negócios da CTBC, hoje a companhia conta com 150 clientes de médio e pequeno porte em locação de infra-estrutura. Na Brasil Telecom (BrT), os negócios com serviços gerenciados de informática começaram há dois anos, quando a operadora deu início a um projeto de cunho muito mais social que empresarial, conta o gerente de mercado governamental da BrT, Henrique Heleodoro. Em 2005 a operadora lançou uma oferta conjunta de acesso à internet, instalação, equipamentos e manutenção para escolas, em Brasília. "Em algumas delas, fizemos até ajustes na rede elétrica."

O que era projeto social, porém, se transformou em oportunidade de negócio, com foco em prefeituras e Estados. Segundo Henrique Heleodoro, o projeto vem sendo estendido às secretarias de segurança pública (com instalação de câmeras e softwares de monitoramento, por exemplo) e a hospitais. Em Goiás, a BrT já atende 300 escolas, com 22 computadores em cada uma delas. Em vez de a prefeitura fazer uma série de concorrências para contratar banda larga e computadores para escolas, a idéia da BrT é se "vender" como um provedor único para tudo.

Não é uma tarefa tão simples. Há cerca de um ano a GVT estuda uma forma de oferecer a terceirização de informática para pequenas e médias empresas, mas ainda não oferece o serviço. "Não há dúvidas de que vamos entrar nesse mercado. A questão agora é de que maneira faremos isso", diz o gerente de marketing de produtos da GVT, Ricardo Sanfelice. "Levar esse serviço para uma massa de clientes e administrá-lo de maneira eficiente é um grande desafio logístico."

O momento é de definição de modelos para entrar no mercado. Delimitar responsabilidades e estabelecer quais serão os parceiros para oferta dos serviços são algumas respostas que as teles têm que responder. No caso da BrT, por exemplo, há situações em que o pacote de terceirização inclui até os móveis onde ficarão os computadores e a instalação de grades de segurança nas escolas.

Tal é a complexidade do modelo que, por enquanto, a BrT ainda não oferece o serviço para pequenas empresas privadas. Como acontece com a maior parte das operadoras, trata-se de uma opção restrita apenas a clientes de grande porte.

O caminho, porém, é sem volta, diz Ricardo Sanfelice, da GVT. A expectativa da operadora é colocar a sua oferta no mercado até o final do próximo ano. A terceirização também já faz parte dos planos da Oi. A operadora, no entanto, preferiu não falar sobre o assunto, sob o argumento de que a estratégia ainda não tem detalhes definidos.

Para Valéria Portela, sócia diretora da brasileira Multirede, empresa especializada em consultoria de tecnologia, uma das principais dificuldades das operadoras hoje é estabelecer preços para os serviços. A demanda, porém, é grande. Nos últimos meses, diz ela, os projetos de terceirização das teles levaram a Multirede a prestar consultoria para mais de uma dúzia de operadoras no México, Venezuela, Colômbia, Chile, Argentina e Brasil. "Na maioria dos casos, fomos chamados para ensinar como vender esse serviço. Ainda há muita dúvida na área comercial."

Terceirizar infra-estrutura não é algo inédito para as operadoras. O elemento novo é fazer isso com equipamentos de informática, propriamente ditos. Fabio Bruggioni, da Telefônica, lembra que seu Posto Informático é uma derivação dos Postos de Voz, lançados há dois anos. No serviço, a Telefônica oferece a clientes empresariais PABX digital, telefones digitais (com caixa postal, detector de chamadas e outros recursos), além de um pacote de minutos de telefonia fixa. Com a entrada dos equipamentos de TI, elementos como gerenciamento de segurança, telefonia sobre rede de internet e rede local sem fio (Wi-Fi) passam a fazer parte do pacote. "Temos planos de unir os dois serviços: de voz e de informática", afirma.

O Brasil também não é o primeiro destino das teles na oferta de infra-estrutura de TI. Fora do país, a Telefônica já implantou projetos na Argentina, Chile, Colômbia e Peru. Para reduzir seus custos, a operadora tem feito compras conjuntas de equipamentos para toda a América Latina. Só na Espanha, a companhia colocou no ar 210 mil postos de trabalho em um ano.