Título: Bill Clinton reforça o time de investidores da Brenco
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 04/07/2007, Agronegócios, p. B12

O ex-presidente americano Bill Clinton faz parte de um grupo de investidores estrangeiros que no início deste ano resolveu apostar alto na produção de etanol no Brasil, de acordo com um documento divulgado há duas semanas pelo comitê de sua mulher, a senadora Hillary Clinton, que está em campanha para as eleições presidenciais de 2008.

Clinton tem uma pequena participação na Brazilian Renewable Energy Company (Brenco), empresa criada pelo ex-presidente da Petrobras Henri Philippe Reichstul e que planeja construir dez usinas de álcool nos próximos anos. A Brenco deve investir até US$ 2 bilhões no setor e em março anunciou ter concluído a captação dos primeiros US$ 200 milhões.

O valor da participação de Clinton no negócio está entre US$ 15 mil e US$ 50 mil, conforme a estimativa feita por Hillary em um relatório que ela é obrigada por lei a apresentar todos os anos, com informações detalhadas sobre seu patrimônio particular e as finanças do marido.

Clinton entrou na Brenco como sócio da Yucaipa Global Holdings, empresa que administra os investimentos do bilionário Ron Burkle, um dos melhores amigos do ex-presidente e um dedicado colaborador na arrecadação de fundos para a campanha de Hillary, que briga com outros sete candidatos pela indicação do Partido Democrata para as eleições de 2008.

"Eu sabia que alguns investidores americanos que entraram na empresa são muito ligados aos democratas, mas não sabia que o próprio Clinton tinha um interesse na companhia", disse Reichstul ao Valor. Três fundos administrados pela Yucaipa participaram da fundação da Brenco e contribuíram com US$ 7,5 milhões ao todo, segundo ele.

Também são sócios da Brenco o investidor indiano radicado nos EUA Vinod Khosla, um dos fundadores da AOL, Steve Case, o ex-presidente do Banco Mundial James Wolfensohn e o ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) David Zylbersztajn, entre outros investidores nacionais e estrangeiros.

Burkle fez fortuna construindo e depois vendendo uma cadeia de supermercados no Estado da Califórnia. Além da Brenco, Clinton e seu amigo são sócios na Garrard, a joalheria que cuida das jóias da família real britânica, e na Easy Bill, empresa indiana especializada em coletar pagamentos de pequeno valor.

A participação de Clinton na Brenco é muito pequena, mas chama atenção por indicar um grau de interesse que vai além da mera curiosidade pelo sucesso do etanol no Brasil, num momento em que o assunto tem grande importância nas relações do país com os EUA.

Procurada pelo Valor, a assessoria de Clinton não quis discutir os motivos que o levaram a investir na Brenco. Em abril, ele e Hillary venderam milhões de dólares em ações de várias companhias para evitar conflitos éticos e questionamentos embaraçosos na campanha. Mas o ex-presidente preservou os investimentos que fez com a Yucaipa.

Há cerca de três meses, ao discursar num evento organizado pelo empresário Mário Garnero em Nova York, Clinton elogiou o programa brasileiro de álcool e contou ter ouvido recentemente do primeiro-ministro da Etiópia, Meles Zenawi, manifestações de interesse pela experiência do país. "O Brasil faz o melhor etanol do mundo", disse Clinton.

O assunto é politicamente delicado para Hillary, por causa dos interesses que protegem a indústria de álcool nos EUA, onde o combustível é feito de milho e não de cana como no Brasil. No passado, ela criticou os subsídios que estimulam a indústria americana e foi contra diversas iniciativas voltadas para a sua promoção.

Mas nos últimos tempos ela mudou de idéia e passou a defender os investimentos na indústria doméstica como uma maneira de reduzir a dependência americana de petróleo importado. No ano que vem, as prévias para seleção dos candidatos à Casa Branca começarão no Estado de Iowa, maior produtor de milho e etanol dos EUA.

A indústria americana vê os usineiros brasileiros como uma ameaça aos seus interesses e recentemente conseguiu que o Congresso dos EUA renovasse uma barreira tarifária que encarece a importação do álcool brasileiro, que é muito mais competitivo do que o produzido nos EUA. A tarifa expira no fim de 2008, semanas antes da posse do próximo presidente americano.