Título: Empresas fechadas, portas abertas
Autor: Pavini, Angelo
Fonte: Valor Econômico, 04/07/2007, EU & Investimentos, p. D1

Os fundos de private equity, ou fundos de participações em empresas, estão na moda no Brasil e no exterior. Aplicações de longo prazo - oito anos no mínimo, sem resgate parcial -, são eles os responsáveis por alguns dos maiores negócios corporativos recentes do mundo, canalizando o dinheiro de grandes investidores para projetos bilionários de consolidação de setores ou fusões de concorrentes. No mês passado, por exemplo, o Blackstone, um dos maiores dos Estados Unidos, levantou US$ 4,13 bilhões ao vender 12% de seu capital na maior oferta pública dos últimos cinco anos, alcançando um valor de mercado de US$ 33 bilhões. KKR e Carlyle Group são outros gigantes desse mercado.

No Brasil, esses fundos são relativamente recentes, mas já fizeram história ao reunir recursos de investidores que serão injetados na reestruturação de empresas familiares, tornando-as competitivas e grandes o suficiente para abrir seu capital. É o caso de Diagnósticos da América (Dasa), Gafisa, Iguatemi e uma infinidade de companhias que abriram seu capital nos últimos dois anos.

O problema é que esses fundos não são para o bico de qualquer um. Para aplicar em um private equity, a conversa começa com R$ 10 milhões pelo menos. Um valor considerável, levando-se em conta que ele deve representar uma parcela pequena (10% no máximo) do patrimônio total do investidor, já que vai ficar imobilizado por muitos anos.

A situação pode estar, porém, mudando. O Unibanco está lançando um fundo especialmente para aplicar em carteiras de private equity, exigindo um valor menor do investidor qualificado, R$ 300 mil. Não chega a ser uma opção de varejo, mas já se torna palatável para investidores de private bank. Será o primeiro fundo de fundos de private bank brasileiro e a expectativa é de que outros surjam, a exemplo do que ocorre no exterior, onde aplicações podem ser feitas a partir de US$ 100 mil (R$ 200 mil), explica Marco Navarro, responsável pela Diretoria de Investimentos e Planejamento Patrimonial do Unibanco Private Bank. "Lá fora, um fundo de private equity mais popular exige aplicação de US$ 10 milhões (R$ 20 milhões)", afirma. "Por isso há fundos de fundos como este e um mercado secundário ativo de cotas, que garante liquidez para quem quer sair da aplicação." Ele espera que, em quatro ou cinco anos, haja um número razoável de fundos de fundos de private equity no Brasil, possibilitando a criação de um mercado secundário de cotas.

Navarro está recomendando o Unibanco Economia Real FIC FI para investidores com patrimônio a partir de R$ 5 milhões. O fundo estará aberto para aplicações até 17 de julho. A sugestão é de investimento de 1% a 3% do patrimônio para clientes menores, chegando a 10% em patrimônios acima de R$ 100 milhões. A taxa de administração do fundo é padrão, 2% ao ano, mais performance de 20% do que exceder o IPCA mais juros de 6% ao ano.

Uma vez por ano, o fundo fará uma reavaliação dos ativos de capital fechado por auditoria renomada para atualização das cotas. Já nas empresas que tiverem capital aberto, a atualização será diária, pelo valor das ações em bolsa. O fundo, afirma Navarro, permite que o cotista acompanhe de perto a empresa, como dono. "Ele recebe como material, além histórico de performance, relatórios semanais das empresas-alvo e reuniões com executivos", explica.

O fundo está selecionando os parceiros que vão compor a carteira. O primeiro selecionado foi o Banco Pátria de Negócios, associado da Blackstone. O fundo do Pátria receberá os recursos do fundo do Unibanco e partirá, então, em busca de empresas, preferencialmente de capital fechado, dentro dos critérios estabelecidos pelo banco. Ele não poderá ter participação superior a 20% no capital das empresas. E os setores-alvo são aqueles onde o Brasil tem vantagem competitiva, empresas tecnologicamente avançadas ou que podem conquistar o mercado mundial. "Selecionamos, por exemplo, a terceirização de processos de negócios (BPO), empresas de serviços financeiros ou empresas voltadas para o agronegócio", afirma Navarro. Entram na lista empresas líderes ou com espaço para consolidação ou onde haja alguma lacuna de mercado, alguma carência do país. Por exemplo, os setores de saúde, educação, varejo e atacado.

Como o fundo é fechado, não haverá resgate de cotas por oito anos, o que livra o fundo do come-cotas semestral. Mas como a carteira deve concluir os investimentos nas empresas em quatro anos e, a partir daí, começar os desinvestimentos (a venda das empresas), pode ser que, a partir do quarto ano, o fundo retorne, parte do capital por meio de dividendos, "mas isso é prerrogativa e liberalidade dos administradores", afirma Navarro.

Ele lembra que não existe no Brasil ainda um histórico que permita estimar o retorno dos fundos de private equity. "Mas vislumbramos uma perspectiva de retorno superior a ações porque o cotista participa de todo processo de desenvolvimento da empresa, desde o começo."

A grande novidade é o interesse dos private banks em procurar ativos alternativos para os clientes com uma visão de bem mais longo prazo, afirma Olimpio Matarazzo, sócio do Banco Pátria.

"Lá fora é mais comum, mas no Brasil é uma coisa incipiente, que deve ser uma grande tendência no futuro", diz ele. "Especialmente com os preços da bolsa já chegando aos 55 mil pontos, o investidor cai para as empresas fechadas, com potencial de crescimento e consolidação". O Pátria administra no total US$ 1,5 bilhão, a maior parte em private equity (US$ 1,1 bilhão) e o restante em imóveis e fundos de investimento.

O Pátria deve procurar oportunidades nos segmentos de saúde, educação, infra-estrutura, serviços, mercado imobiliário e agronegócio, afirma Matarazzo. A proposta é trabalhar setores prestes a se consolidar, empresas médias lideradas por executivos competentes. "Aliamos nossa capacidade financeira à competência do empresário", diz ele. Foi o caso da Dasa, por exemplo, um investimento que começou em 1999, teve a abertura de capital em 2004 e uma segunda oferta em 2006. " Não chegamos ainda a desinvestir totalmente, mas estamos nessa fase, que é tão importante quando fazer o investimento", diz ele.