Título: Kirchner intercede a favor do ingresso da Venezuela no Mercosul
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2007, Brasil, p. A4

O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, está tentando salvar a entrada da Venezuela no Mercosul. Ligou ontem para a Europa, e pediu ao presidente Lula para que ele "prepare o caminho" para a aprovação da entrada da Venezuela no bloco. "Estamos profundamente convencidos de seguir adiante com as políticas implementadas, com a construção do Mercosul e a união dos povos da América Latina. Por isso é importante preparar o caminho, como disse a Lula, para que a Venezuela possa ser parte ativa do Mercosul", afirmou o presidente argentino ontem, durante ato público em La Plata, a 60 km de Buenos Aires.

A intervenção de Kirchner chega no auge da desavença entre Brasil e Venezuela. Tudo começou em maio, quando o presidente venezuelano, Hugo Chávez, chamou os senadores brasileiros de "papagaios de Washington", porque enviaram uma carta ao governo da Venezuela pedindo que voltasse atrás no cancelamento da concessão de um canal de TV.

Desde então, o governo brasileiro vinha tentando fazer com que Chávez se desculpasse pelo que disse, já que os senadores ameaçam rejeitar o pedido de adesão da Venezuela ao Mercosul. Chávez não só recusou pedir desculpas, como deu um ultimato, terça-feira, dizendo que, se em três meses o Congresso - do Brasil e do Paraguai - não aprovasse o documento, retiraria o pedido de adesão ao bloco. Ontem, Lula não deixou por menos e afirmou: "Se não quiser ficar, não fica".

O governo argentino, que até agora mantinha silêncio sobre o caso, ficou em situação complicada, pois tem sido avalista da entrada da Venezuela. Kirchner deve muito a Chávez, que já comprou quase US$ 4 bilhões em títulos do Tesouro argentino, ajudando a fechar as contas do país. Também ajudou com sua política de apoio a empresas argentinas, oferecendo US$ 135 milhões em empréstimos à cooperativa leiteira SanCor, para que pudesse recusar uma oferta de compra do investidor George Soros, além de ter assinado acordos estratégicos nas áreas de petróleo, gás, soja e maquinário agrícola.