Título: Especialistas querem relações diversificadas com América do Sul
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2007, Brasil, p. A4

As políticas brasileiras para a América do Sul são inadequadas para a atual sofisticação e diversidade das relações do país com seus vizinhos. Além da redução das tarifas de importação, a integração do continente deve contemplar temas como investimentos, energia, infra-estrutura e narcotráfico. Para isso, serão necessários mecanismos distintos dos criados na década de 90, quando surgiu o Mercosul.

Essas são as principais conclusões de uma força-tarefa intitulada "O Brasil na América do Sul" e formada por acadêmicos, consultores e executivos de empresas para discutir o tema. A iniciativa foi promovida pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e pelo Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes) e financiada pela Agência Suíça para a Cooperação ao Desenvolvimento.

Segundo Sandra Rios, diretora do Cindes e uma das coordenadoras da força-tarefa, houve um razoável consenso entre os 22 membros em relação ao "diagnóstico" das relações entre Brasil e América do Sul. Para o grupo, houve um "adensamento" na agenda de temas entre os países da região.

A América do Sul absorve hoje 20% das exportações brasileiras e é um destino importante para as manufaturas. Os investimentos de empresas brasileiras nesses países aumentaram nos últimos anos. Os fluxos migratórios intra-regionais também estão se expandindo rapidamente. No entanto, é evidente para o grupo a pouca atenção que a sociedade brasileira dá ao tema da integração com os vizinhos.

Na hora de estabelecer qual seria a melhor estratégia do Brasil para a América do Sul, o grupo se dividiu. Uma parcela apóia uma integração "multifacetada" e acredita que a relação do Brasil com esses países é excessivamente comercial e que seria necessário incorporar um componente desenvolvimentista e temas sociais. Esses especialistas também defendem a implementação de mecanismos compensatórios para as assimetrias entre os países da região.

Outra fatia do grupo prefere uma integração "seletiva" com a América do Sul. Esses participantes reconhecem a existência de variados interesses na região, mas defendem que é preciso selecionar temas em que a dimensão regional seja importante para as agendas nacional. Eles citam como exemplo comércio, investimentos, energia e infra-estrutura. Para essa parcela do grupo, a parceria do Brasil com a região não é inevitável e o principal objetivo do país deve ser a integração com a economia mundial, o que balizaria sua política regional.

A força-tarefa de acadêmicos, consultores e empresários acabou refletindo o debate interno que existe no país hoje sobre política externa, embora essa não tenha sido sua intenção inicial. Enquanto o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, comprometido com a base de esquerda e os movimentos sociais, dá prioridade à América do Sul, o empresariado nacional está preocupado com a inserção econômica do Brasil.

Apesar dessa divisão no grupo, a força-tarefa conseguiu chegar a recomendações comuns, que servem para qualquer estratégia. Com o aumento do número de temas na agenda, sejam econômicos ou sociais, o modelo de cooperação dos anos 90, fundamentado apenas em acordos de redução de tarifas, não é mais suficiente. A integração comercial ainda é importante, porque o tamanho do mercado interno é o principal ativo que o Brasil pode oferecer aos seus parceiros, mas o desenvolvimento da infra-estrutura e o estabelecimento de disciplinas comuns que estimulem os investimentos já são essenciais.

No fim de agosto, o grupo apresentará os resultados do seu trabalho em um seminário no Rio de Janeiro, que contará com especialistas de outros países da região. Segundo Sandra Rios, o objetivo é ouvir os demais países da região para conseguir aprofundar a discussão.