Título: Da ficção financeira à "revolução"
Autor: Adachi, Vanessa e Balarin, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2007, Empresas, p. B3

Há cinco anos, IPO era apenas uma peça de "ficção científica financeira", hoje é sinônimo de uma espécie de revolução no Brasil. É assim que o chefe de análise para a América Latina do Santander Nova York , Cristian Moreno resume o momento do mercado de capitais brasileiro. É bem verdade que o anglicismo que se tornou sinônimo de ofertas públicas iniciais no país ainda remete a um certo cientificismo financeiro. Mas de ficção hoje, não resta mais nada. "De repente nos damos conta que na semana passada houve um IPO por dia no Brasil. O que está ocorrendo no mercado brasileiro é algo único na América Latina", diz Moreno, mostrando que enquanto o Brasil assistiu a mais de 58 ofertas desde 2005, no México foram 9, no Chile 8 e na Argentina apenas 2.

A boa notícia, acredita o especialista, é que parece existir uma forte relação entre o tamanho da capitalização de mercado como percentual do PIB e o aumento do PIB per capita. Mas o que está por trás de um boom tão significativo? Moreno acredita que a melhora dos fundamentos da economia brasileira é um dos motivos, mas há outras razões menos glamourosas. "Por conta das taxas de juros altas, as empresas provavelmente tinham mais dificuldade para financiar seus projetos e possivelmente por isso estão recorrendo mais ao mercado de capitais do que as mexicanas", analisou Moreno, que participou ontem de seminário sobre a América Latina promovido pelo Santander, na Espanha.

Para Moreno, há fôlego para continuar o ritmo de aberturas de capital e, embora acredite que a onda de lançamentos não seja uma bolha, recomenda mais seletividade do investidor. "É preciso fazer uma avaliação realista dos projetos apresentados pelas empresas", acredita ele, que destacou o setor imobiliário como o protagonista da grande onda de lançamentos, com mais de 17 ofertas desde 2005, seguido do segmento de tecnologia e mídia, com 6 estréias na bolsa.

Outro fenômeno destacado por Moreno é a capacidade das companhias abertas de crescer muito acima do nível de atividade da economia. Segundo projeções apresentadas pelo especialista, enquanto o PIB pode crescer 4,3% em 2007, a geração de caixa das companhias abertas deve ter uma expansão média de quase 30%. "Uma das explicações para isso é o forte processo de consolidação que está ocorrendo em diversos setores", explica.

A repórter viajou a convite do Santander.