Título: Santander investirá US$ 800 milhões no Brasil em três anos
Autor: Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 06/07/2007, Finanças, p. C14

De olho no que chama de classes médias emergentes e visando dobrar sua fatia de mercado em cinco anos, o Santander anunciou ontem que pretende investir pesado no Brasil. Serão US$ 800 milhões de investimento nos próximos três anos, isso sem contar o fundo de US$ 1 bilhão para projetos de infra-estrutura, que deve ser anunciado em cerca de três semanas. Apesar de ser um fundo para toda a América Latina, o diretor-geral do banco para a região, Francisco Luzón disse que não há limites de destinação de recursos para o Brasil. "Será o que for necessário, os grandes projetos estão no Brasil e no México", destacou Luzón.

O executivo disse ainda que espera que o Santander tenha papel importante junto aos projetos do Plano de Aceleração de Crescimento (PAC) e quer auxiliar o país na interface com os investidores e as empresas espanholas. "Em outubro, o presidente Lula estará aqui na Espanha", contou Luzón. "Estamos muito envolvidos em facilitar os investimentos do PAC", completou ele. Os projetos do novo fundo, que será uma espécie de private equity, não precisam estar no PAC para receber investimentos e os setores prioritários serão transportes, saneamento, habitação e comunicações, segmentos que o Santander classifica como "infra-estrutura social".

O novo fundo poderá destinar recursos porém a outros países na América Latina, além de Brasil e México, e segundo estimativas do banco pode alavancar investimentos vinte vezes maiores que os recursos aportados pelo Santander, que são de US$ 1 bilhão.

Já o investimento de US$ 800 milhões na operação do banco no Brasil corresponde a 40% dos US$ 2 bilhões que serão investidos na América Latina nos próximos três anos, dentro do Plano América 2010, que detalha as estratégias que o banco usará para buscar dobrar de tamanho na região. Segundo o executivo, o Brasil é hoje o terceiro país mais importante para o banco e por isso é prioridade não apenas no âmbito da América Latina, mas no global. "Temos hoje um percentual de 5,2% do mercado brasileiro e queremos chegar a 7,5% ou 8% em 2010 e elevar esse percentual para 10% num prazo de cinco anos", afirmou Luzón.

De acordo com o executivo, se as projeções dos economistas do banco estiverem corretas, o Brasil deve ser o país no qual mais famílias vão ascender à classe média. "As estimativas são de que serão 37 milhões de famílias de classe média em 2010, sendo que em 2005 eram 29 milhões", afirma Luzón. O banco trabalha com uma média de quatro pessoas por família e considera classe média, de forma genérica, aquelas com renda de cerca de R$ 2 mil mensais. Por isso, um dos eixos a ser focado no plano é a bancarização.

"Estamos pensando a longo prazo, acredita-se que no Brasil exista espaço para a abertura de mais cerca de 25 milhões de contas correntes no setor bancário como um todo, vamos buscar esses clientes", diz Luzón.

A conquista de correntistas não é o único foco, mas também o crédito e principalmente cartões de crédito, que Luzón espera que se popularizem tanto quanto os telefones celulares. "Somos um banco comercial, de varejo", reafirmou o executivo. O foco nas folhas de pagamento também continuará forte, garante o executivo. Só este ano, segundo ele, o banco já conquistou cerca de 100 mil clientes só com folhas de pagamento do setor público e privado. "Acabamos de fechar com a TAM", comemora ele.

Também por conta desse nicho de atuação, o Rio de Janeiro será o Estado no qual o Santander mais vai crescer este ano. Segundo Luzón, estão previstas as aberturas de 130 novas agências em 2007, das quais 92 no Rio. Após dar o lance vencedor, em julho do ano passado, e conquistar a folha de pagamento da prefeitura carioca, o Santander já abriu 76 agências no Rio. No país todo, o banco tem 2,1 mil agências e deve chegar a 2,2 mil no fim do ano.

O executivo do Santander lamentou que alguns segmentos no Brasil, como folha de pagamento de servidores e crédito rural, por exemplo, ainda sejam monopólios dos bancos estatais. "Quando fui presidente da banca pública espanhola, em 1988, recebi seis bancos públicos e privatizei todos", lembrou Luzón. Ele ponderou porém, que no Brasil o cenário é diferente. "Hoje não seria bom privatizar os bancos públicos, eles ainda exercem funções importantes, mas no longo prazo poderia se pensar em ir por esse caminho", disse ele, referindo-se ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal.

Luzón garante que, pelo menos desde a compra do Banespa, em 2001, o banco nunca teve a intenção de vender ativos no Brasil e que continua sendo comprador. Eles não descartam eventuais aquisições em segmentos específicos, como o de financeiras ou outros nichos de crédito, caso apareçam boas oportunidades. Com relação a uma eventual aquisição do ABN AMRO, Luzón disse estar impedido de fazer comentários e disse apenas que "o caso ABN é uma mostra da confiança e vontade de seguir investindo no Brasil".

Até hoje, o Santander investiu cerca de US$ 18 bilhões na América Latina, dos quais cerca de US$ 7,5 bilhões foram para o Brasil. Segundo Luzón, o país responde por cerca de 10% do resultado do banco e o ideal seria elevar esse percentual para 14%. De acordo com ele, o volume e a escala têm que ser as armas para aumentar os resultados no país em meio ao processo de queda de juro. Pelas projeções do executivo, em dois anos, o juro real no país deve ficar entre 5% e 6%.

A repórter viajou a convite do Santander