Título: 'Se não quiser ficar, não fica', diz Lula sobre o ultimato de Chávez
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 05/07/2007, Brasil, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu ontem ao ultimato dado pelo presidente Hugo Chávez para que o Congresso brasileiro - e também o do Paraguai - aprove a entrada da Venezuela no Mercosul em três meses. Caso isso não ocorra, o país desistiria de se tornar sócio do bloco. "Para entrar tem que ter a aceitação dos quatro membros do Mercosul. Agora, para sair não tem regra, se não quiser ficar, não fica", disse o presidente brasileiro.

Lula lembrou que foi ele quem tomou a iniciativa de propor aos "companheiros do Mercosul" a entrada do "companheiro"' Chávez no Mercosul, e que tinha pensado em conversar com ele na cúpula do bloco, semana passada, no Paraguai, para saber "o que está acontecendo", mas Chavez tinha "compromisso no exterior". Depois, o tom de Lula foi amaciado com declarações de amizade a Chávez.

Enquanto deflagrava a parceria estratégica com a UE, Lula qualificou de ''extraordinária'' a ''parceria'' com a Venezuela, destacando a construção do gasoduto que atravessará a América do Sul. "Além de chefes de Estado, somos amigos, não faltará prosa boa para saber com Chávez o que está acontecendo."

Por sua vez, o presidente da Comissão Européia, José Durão Barroso, e o primeiro-ministro português José Sócrates, num encontro com Lula, mostraram claramente suas reservas a gestos que partem do governo venezuelano, que disseram estar em falta de sintonia com o resto da América do Sul.

O presidente da Comissão Européia disse que compete a América Latina fazer as integrações que desejar, mas reafirmou as criticas ao governo Chávez pela restrição à liberdade de expressão com o fechamento de uma emissora de televisão, ato que também provocou um confronto entre o Congresso brasileiro e o presidente venezuelano.

No Brasil, o embaixador venezuelano, Julio García Montoya, explicou ontem a membros da Comissão de Relações Exteriores da Câmara que a intenção de Chávez não foi de dar um ultimato, mas sim de demonstrar interesse em entrar para o bloco no menor espaço de tempo possível. Montoya, porém, foi alertado de que as declarações de Chávez acabaram criando mal-estar, tanto na Câmara como no Senado. "Isso é algo que nos preocupa", afirmou o deputado Vieira da Cunha (PDT-RS), presidente da comissão e autor do convite a Montoya para conversar com os parlamentares.

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, "as relações econômicas e comerciais entre Brasil e Venezuela vêm apresentando um crescimento expressivo e são importantes para os empresários brasileiros", disse ontem, por meio de sua assessoria, por telefone. "Isso ocorreu sem que a Venezuela fosse parte do Mercosul e poderá continuar independentemente do destino que o processo de adesão tenha." Monteiro está em Lisboa participando de reunião com empresários.

Monteiro Neto indicou que o ingresso efetivo da Venezuela no Mercosul "pode contribuir para criar novas oportunidades", mas lembrou que, para ser aceito, o governo de Chávez "deve cumprir os compromissos exigidos" pelo bloco, como a liberalização do comércio entre as zonas e a adoção da TEC. "É preciso que a forma de implementação desses compromissos esteja definida antes da aprovação da adesão da Venezuela pelo Congresso Nacional", disse Monteiro Neto.

O ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, disse que o Brasil não aceitará o ultimato dado por Chávez. Ele repetiu o que havia dito a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) na terça-feira, o que, na sua opinião, foi "muito bom". "Ninguém marca prazo para país nenhum tomar decisão. Nem nós marcamos para os outros, nem aceitamos que os outros marquem para nós por mais amigos que sejamos."

Heráclito Fortes (DEM-PI), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, diz que o episódio não pode afetar a análise que será feita sobre o pedido. "A Venezuela merece mais respeito do que um fato isolado, que envolve um presidente eventual", disse. Para ele, os venezuelanos são parceiros históricos. (Com agências noticiosas)