Título: Greve de 2006 ajuda superávit deste ano
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 05/07/2007, Brasil, p. A4

Uma distorção estatística pode estar comprometendo os dados da balança comercial brasileira. No primeiro semestre do ano, o superávit obtido pelo país em suas trocas com o exterior aumentou 5,7%, para US$ US$ 20,6 bilhões - um bom resultado em tempos de dólar valorizado. O problema é que, retirado o

efeito estatístico, o saldo provavelmente teria ficado estável, conforme os cálculos do departamento econômico do Bradesco.

Uma greve dos fiscais da Receita Federal durante os meses de maio e junho do ano passado atrapalhou os embarques e desembarques de produtos do país, prejudicando principalmente a exportação. Se, em 2006, a paralisação tirou o brilho da balança , neste ano o efeito é inverso. A base de comparação fraca está inflando os resultados.

Segundo o Bradesco, expurgados os efeitos da greve, as exportações brasileiras teriam crescido 16,3% no primeiro semestre, em vez de 19,9%. Nas importações, o efeito é menor. As compras externas brasileiras subiram 26,6% no primeiro semestre, mas sem a distorção estatística, a alta seria de 24,6%. "É melhor não ir com tanta sede ao pote, porque há um efeito puramente estatístico", diz uma fonte do banco.

Para Fernando Ribeiro, economista da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), o impacto estatístico ajuda a explicar porque as exportações saltaram 32% em maio de 2007 em relação a maio de 2006. No acumulado deste ano, as exportações cresceram 15,7% até março, 18,6% até abril, 21,5% e 20% até junho. Ele diz que a tendência é de uma redução desse percentual até o fim do ano, para 15%.

Os economistas admitem, porém, que os produtos básicos estão apresentando um bom desempenho nas exportações, em quantidade e em preço. No primeiro semestre, as exportações de commodities subiram 31%, acima dos 22% dos semimanufaturados e dos 14,5% dos manufaturados. As exportações de carnes de frango, bovina e suína, por exemplo, cresceram, respectivamente, 43,7%, 33,5% e 32,4%, graças ao fim dos embargos ao produto brasileiro em alguns países.

Apesar das exportações de commodities, as apostas do mercado ainda estão concentradas em um saldo da balança comercial em 2007 robusto, mas inferior ao de 2006. "É bem mais provável um saldo menor. Se os preços das commodities ajudarem muito, teremos no máximo um saldo igual", diz Ribeiro. A Funcex projeta superávit de US$ 43 bilhões este ano, queda de 6,5% em relação aos US$ 46 bilhões de 2006. O Bradesco prevê superávit de US$ 42,3 bilhões em 2007.

Ribeiro diz que o forte aumento das importações é a variável que mais contribui para a redução do saldo, pois as compras externas estão sendo impulsionadas pelo bom desempenho da economia brasileira. Os economistas do Bradesco ponderam que só será possível avaliar melhor os resultados da balança comercial no fim deste mês, quando os efeitos estatísticos da greve dos fiscais da Receita Federal deixarão de impactar os resultados.