Título: Cinco setores explicam 71% da alta da indústria
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 05/07/2007, Brasil, p. A8

Apesar de apresentar crescimento nos últimos meses, a expansão da produção industrial brasileira está bastante concentrada. Neste ano, até maio, a indústria cresceu 4,4% em relação a igual período do ano passado. Apenas cinco setores contribuíram com 70,9% deste resultado, com destaque para máquinas e equipamentos e veículos. A participação dos cinco setores mais importantes (que variam de ano para ano) é maior do que o visto em mesmo período de 2006, quando ficou em 62,6%.

O incremento na produção dos cinco setores que puxam a indústria está bastante ancorado no aquecimento da demanda doméstica. Além de bens de capital, veículos automotores, alimentos e máquinas e equipamentos de informática também estão no rol dos maiores responsáveis pela alta da atividade industrial. Esse perfil do crescimento de 2007 não corrobora a tese de que são as commodities que impulsionam a economia neste ano.

Também chama atenção que a indústria cresce em ritmo forte mesmo com essa concentração. Em 2004, quando a expansão da atividade foi ainda mais vigorosa - de 6,5% entre janeiro e maio -, a dispersão do crescimento foi maior. Naquela época, cinco setores responderam por 65,2% da alta da produção.

"Embora o crescimento esteja mais concentrado, ele é forte, pois agrega o incremento da demanda interna", explica Edgard Pereira, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Em 2007, a tendência é que a expansão tanto da economia, como da indústria, seja mais sustentada. O desempenho positivo da produção de máquinas e equipamentos (bens de capital) aliado à inflação mais baixa devem evitar pressões de demanda. Com isso, a perspectiva é que o Banco Central continue a cortar os juros e não precise estancar o crescimento como em setembro de 2004.

Entre janeiro e maio deste ano, o setor de bens de capital já acumula um aumento de 16,5% na produção em comparação com o mesmo período de 2006. Em relação a maio do ano passado, a alta chega a 19,4% e está bastante espalhada. Cresce tanto o nível de atividade de bens de capital para energia elétrica, quando para construção, para transporte, para fins agrícolas e para fins industriais.

O problema é o resultado mais fraco em outra categoria de uso, a dos bens intermediários, que representa nada menos do que 55% da produção industrial brasileira. Nos primeiros cinco meses do ano eles subiram bem menos: 3,9%, afetados principalmente por produtos que sofrem com a valorização cambial, como insumos industriais elaborados. Tecidos e autopeças, por exemplo, fazem parte desse grupo de produtos.

No indicador mais recente, que mede a evolução em maio, na comparação com abril deste ano e com ajuste sazonal, a evolução desse segmento foi a menor dentre as categorias de uso: apenas 0,6%. Ao mesmo tempo, os bens de capital avançaram 5,1%, os bens duráveis, 1,5%, e os semi e não-duráveis, 1,3%.

Para Bráulio Borges, economista da LCA Consultores, esse movimento é um pouco preocupante. Ele lembra que esses bens estão presentes em todas as demais categoria de produtos. "Se eles estivessem crescendo mais, a produção industrial estaria com taxas ainda maiores." O lado bom é que, com a valorização cambial e queda no preço dos insumos importados, as empresas podem evitar ou amenizar reajustes de preços, mesmo com expansão do consumo. Por outro lado, parte importante da cadeia industrial perde mercado.

Borges acredita, porém, que esse cenário não perdurará por muito tempo. A continuidade da queda dos juros básicos levará o juro real para patamares entre 4% e 5%, bem abaixo dos 8% atuais. Com isso, ele acredita que a entrada de capital estrangeiro será menor e o câmbio voltará para a casa de R$ 2,20. "Isso pode melhorar a competitividade das empresas desse segmento", diz.

Outra categoria pesquisada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que não tem apresentado resultados tão bons é a de semi e não-duráveis, impactada justamente pelos primeiros itens, que também sofrem com o câmbio. Nos cinco primeiros meses deste ano, a alta na produção ficou em 2,5%. Esses produtos, no entanto, mostraram recuperação recentemente. Em maio, sobre abril, avançaram 1,3%, o maior resultado deste ano. Com isso, acumularam, em abril e maio, alta de 2,2%.

O coordenador de pesquisas industriais do IBGE, Andre Macedo, ressalta que a situação da indústria neste ano é melhor do que em 2006. Segundo ele, no ano passado, 55% dos produtos pesquisados pela instituição estavam com a produção em alta. Hoje, 61% deles se encaixam nesse caso. Além disso, na mesma comparação, 20 de 27 setores apurados estão expandindo suas atividades em 2007.

Já para Aloisio Campelo, coordenador da Sondagem Conjuntural da Fundação Getúlio Vargas (FGV), está claro que o crescimento é muito concentrado e que os segmentos industriais que mais perdem são os que competem com importados e intensivos em mão-de-obra como têxtil, vestuário e calçados. "A competitividade dessas empresas foi abalada, mas não só apenas pelo câmbio", diz Campelo. Ele acredita, no entanto, que com a continuidade do crescimento econômico, o país estará apto a fazer as "reformas microeconômicas que ajudarão na recuperação da competitividade."