Título: Renan avalia que já passou pelo pior
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 05/07/2007, Política, p. A9

Muito embora afirme que renúncia não é um verbete de seu dicionário, a hipótese passou a fazer parte dos cálculos políticos do senador Renan Calheiros. Mas esse não é o Plano A. A intenção de Renan é responder ao processo por quebra do decoro no exercício da presidência do Senado, como tem feito até agora, pois avalia que, se o desgaste é maior, é menor o risco de perder o mandato.

A alegação de Renan é que não há provas de que ele recorreu a uma empreiteira para pagar as despesas de sua namorada. No voto secreto, acredita que pode ser absolvido pelos colegas. Aliados próximos do presidente do Senado avaliam que Renan está iludido com as demonstrações particulares de solidariedade: ele já teria sido sentenciado. Ao Conselho de Ética restaria agora apenas organizar o processo.

Após a sessão de anteontem do Senado, quando 14 oradores pediram o seu afastamento, Renan, segundo amigos, avalia que já passou pelo pior. O senador estaria disposto mesmo a presidir a sessão do Congresso para votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias, na qual deputados pretendem questionar sua legitimidade. O PMDB vai articular o adiamento da votação.

Por enquanto, o que está em curso é o Plano A, que começou com a designação de três relatores para o processo por quebra de decoro. A estratégia foi armada pelo núcleo do PMDB que comanda o Senado. É uma forma de dividir responsabilidades. O roteiro prevê que o Conselho terá o tempo necessário à investigação, mas que Renan só deve ser ouvido por último, para não ter que dar explicações a cada fato novo.

É uma estratégia de risco, segundo aliados do senador, pois nada assegura que o roteiro será cumprido à risca, mesmo com Renan na presidência. Exemplo disso foi o fato de a Mesa do Senado ter devolvido o processo ao Conselho, quando os aliados de Renan esperavam que a decisão pelo menos fosse a de remeter os autos para o Supremo.

Além disso, há dúvidas se Renan pode renunciar para evitar a cassação no final dos trabalhos do conselho. No caso do atual deputado Jader Barbalho, o prazo considerado foi o recebimento do processo pela mesa.

Simultaneamente, o PMDB tenta puxar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a disputa, sob o argumento de que no Senado está em curso uma disputa entre governo e oposição cujo alvo real é o presidente. Lula tem ajudado no que é possível, sem deixar impressão digital, mas o próprio PMDB reconhece que ele não tem como somar um desgaste de uma crise que, afinal, está do outro lado da rua, no Congresso.

A oposição, de fato, vê na eventual sucessão de Renan uma janela de oportunidade. Com o ambiente do Senado contaminado, divisão entre aliados, que também ainda não têm uma opção para a presidência do Senado, PSDB e DEM vislumbram a chance de eleger um nome capaz de causar constrangimentos ao Planalto. Poderia ser até um dissidente do PMDB. No DEM, segunda maior bancada, o nome recorrente é o do senador Marco Maciel (PE).

Renan corre contra o tempo. A notícia de que a Polícia Federal não conseguiu provar nada contra o ex-ministro Silas Rondeau animou-o, mas considera-se improvável que Lula o readmita sem antes conhecer a decisão do Ministério Público a partir do inquérito da PF.

A cada dia, "por oportunismo ou interesse partidário", Renan perde apoio na base aliada e no PMDB. Inclusive no PT, o que leva os mais céticos a acreditar que sua sorte é aquela reservada a todos os que são submetidos a um processo político: ele já foi julgado pela opinião pública. Restaria denunciar o processo e tentar voltar em três anos, como fizeram Jader e Antonio Carlos Magalhães. Renan, segundo um próximo, avalia a hipótese, mas ainda insiste que ou fica "com honra" na presidência do Senado ou será cassado.