Título: PMDB, PSDB e PSB dividem relatoria do processo
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 05/07/2007, Política, p. A9

Após reuniões que duraram todo o dia de ontem, os senadores que integram o Conselho de Ética do Senado definiram os três relatores do processo aberto contra o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). Renan, que sofrera derrotas importantes na terça-feira, tanto na Mesa Diretora quanto no plenário da Casa, retomou as rédeas do processo ao impor a indicação do pemedebista Almeida Lima (SE), seu fiel escudeiro, como um dos relatores. Lima era vetado pela oposição e visto com desconfiança pelo bloco governista. Diante do impasse, os senadores preferiram ceder a encerrar a semana sem a definição dos relatores.

Além de Almeida Lima, serão relatores do Caso Renan o senadores Marisa Serrano (PSDB-MS), pelo bloco de oposição, e Renato Casagrande (PSB-ES), pelo do governo. Os três reúnem-se na manhã de hoje com o presidente do Conselho de Ética, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), para definir os procedimentos de trabalho. Depois, o grupo vai encontrar-se com o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, para solicitar a continuação da perícia nos documentos e notas fiscais apresentados por Renan em sua defesa.

O presidente do Senado deu sinais, pela manhã, de que não teria ficado abalado com a pressão manifestada na véspera por 14 senadores da oposição. Assegurou que recebera o apoio de amigos, familiares e seus pares e cobrou as razões de sua condenação prévia. "Do que estou sendo acusado? O Brasil não sabe quais são as acusações que pesam contra mim", sustentou.

O pemedebista apresentou-se como vítima de uma parte da imprensa, que estaria disposta a promover o "terceiro turno das eleições presidenciais". "Uma parte da mídia tentou derrubar o presidente Lula. Como não conseguiu, agora quer derrubar o presidente do Senado", acusou Renan. O líder do governo na Câmara, José Múcio Monteiro (PTB-PE), não viu nas declarações uma tentativa de Renan de trazer o Palácio do Planalto para a crise. "Sabemos separar crises de pessoas físicas das crises institucionais", disse.

Enquanto Renan elevava o tom de sua defesa, seus aliados trabalhavam nos bastidores. A primeira estratégia foi vetar o nome de Democrata Demóstenes Torres (GO) para o triunvirato de relatores do processo no Conselho de Ética. A justificativa: ele já teria uma posição definida contra Renan. Ao longo do dia, oscilaram as posições sobre a conveniência em se escolher três relatores ou a indicação de apenas um nome.

A primeira das reuniões aconteceu no fim da manhã, no gabinete do senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Participaram integrantes do bloco governista e da oposição, além do líder do governo na Casa, Romero Jucá (PMDB-RR) e o líder do partido na Casa, Valdir Raupp (PMDB-RO). Os tucanos almoçaram em seguida e definiram que sua indicação seria a senadora Marisa Serrano. Mas colocaram condicionantes: se Almeida Lima fosse o indicado pelo PMDB, trocariam de indicação ou até mesmo poderiam votar contra o relatório no Conselho.

À tarde, o líder do PSB, Renato Casagrande, percebendo que as negociações estavam empacadas, chegou a propor que os relatores fossem escolhidos dentre os líderes partidários. Ele, ou Ideli Salvatti (PT-SC), Arthur Virgílio (PSDB-AM) ou Agripino (DEM-RN) e Valdir Raupp. Mas o PMDB bateu o pé e Almeida Lima foi escolhido. "Fizemos diversas ponderações, mas não deu certo", conformou-se Ideli. "Se continuássemos no impasse, o processo ficaria para depois", completou Demóstenes.

Um integrante do Conselho deu o diagnóstico perfeito: "todos criticam, mas na hora de agir, ninguém tem coragem de se expor". Para Casagrande, o que importa agora é iniciar os trabalhos. "Não tínhamos mais tempo, o Senado precisava apresentar uma resposta para a sociedade", acrescentou o capixaba. (PTRL)