Título: Isolado, Roriz opta por renúncia para manter direitos políticos
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 05/07/2007, Política, p. A10

"Não temo que meu gesto seja interpretado como demonstração de fraqueza...É que, às vezes, de renúncias depende a honra do cidadão, colocada em risco, não por faltas que tenha cometido, senão pela pusilanimidade de alguns e pela voracidade de interesses políticos - que não se acanham em fazer pré-julgamentos - daqueles que deveriam protegê-la sob a boa sombra das instituições criadas para assegurar o devido processo legal", afirmou Roriz na carta de renúncia.

O ex-governador, eleito em 2006 para oito anos mandato, criticou o corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), por tê-lo acusado de quebra de decoro antes de o processo ser aberto. E demonstrou mágoa com a ausência dos colegas na sessão em que fez sua defesa. "O desapreço dos senadores pelo destino do colega foi notado. Apenas doze eminentes senadores compareceram à sessão" , disse. O primeiro suplente de Roriz, Gim Argello (PTB), tem 60 dias para se apresentar, prorrogáveis por mais 30 dias.

O isolamento de Roriz era claro. Nem sua presença na reunião da Mesa Diretora conseguiu evitar que a representação do PSOL pedindo processo contra ele por quebra de decoro fosse aceita por unanimidade e encaminhada ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. Foram em vão os seus apelos à Mesa para que aguardasse posição do Ministério Público sobre o processo administrativo aberto contra ele. Dizia acreditar que seria inocentado.

Para suspender os efeitos do processo por quebra de decoro, o senador poderia renunciar até o momento em que fosse notificado pelo Conselho de Ética. Isso ainda não aconteceu, mas Roriz não quis correr o risco de perder o prazo e ser impedido de disputar eleições em um prazo de 15 anos.

O ex-governador chegou a considerar a possibilidade de seus dois suplentes - Argello, o primeiro, e Marcos de Almeida Castro (PMDB), irmão do conhecido advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o segundo suplente - também renunciarem à vaga, para que novas eleições fossem realizadas. Mas nos últimos dias Argello não foi localizado por Roriz. Aliados do ex-governador acreditam que Argello, que, segundo reportagem da revista "Veja", também está sob suspeita, pretende assumir a cadeira.

O diálogo que comprometeu Roriz foi gravado pela Polícia Civil durante a Operação Aquarela, que investigou suposta quadrilha que desviava verbas públicas. O ex-governador combinava a partilha de R$ 2,2 milhões com Tarcísio Franklin de Moura, ex-presidente do Banco de Brasília (BRB). Franklin foi um dos presos na operação. A transcrição de escutas, realizadas pela polícia com autorização judicial, foi publicada pela revista 'Veja' em 24 de junho.

Roriz e seu amigo Franklin discutem o local em que fariam a partilha de R$ 2,2 milhões. O dinheiro seria sacado do BRB, mas o cheque era do Banco do Brasil. De acordo com a versão apresentada por Roriz, tratava-se de um empréstimo que pediu ao empresário Nenê Constantino, dono da empresa aérea Gol, para pagar uma bezerra. O ex-governador diz, em sua defesa, que ficou com R$ 300 mil para essa finalidade.

A conversa foi gravada em 13 de março deste ano. Segundo o Ministério Público, o dinheiro foi sacado no mesmo dia e transferido num carro-forte até o escritório de Constantino, onde teria sido repartido entre Roriz, Franklin e uma terceira pessoa. O ex-governador subiu à tribuna e fez um discurso dramático, afirmando nunca ter misturado interesses públicos com privados e que, nesse caso específico, a operação limitou-se a um empréstimo entre amigos.

A versão não convenceu os colegas. Roriz tentou vincular as acusações contra ele ào caso do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que também enfrenta processo no conselho de ética. Acreditava que, assim, poderia ser beneficado da rede de proteção que Renan tem na Casa. Mas, sem traquejo parlamentar e sem trânsito no Senado, Roriz não tem apoio nem do seu partido. O corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), que recebeu documentos e gravações do caso, também já concluiu que houve quebra de decoro. Segundo Roriz, em sua carta, ele "agiu despido da imprescindível serenidade, ponderação e senso de justiça ao externar um juízo de valor em detrimento da honra de seus pares".

Uma das dúvidas de Roriz era quanto ao prazo para que sua renúncia evitasse o processo. Os advogados pesquisaram decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) a uma consulta do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Câmara. Ficou entendido que o prazo termina com a notificação. Roriz decidiu não esperar, para não correr riscos.