Título: Investigação contra senador inaugurou Laboratório contra Lavagem de Dinheiro
Autor: Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 05/07/2007, Política, p. A10

Identificar entre mais de mil e-mails dez capazes de levar a Polícia Federal a desbaratar uma quadrilha de ONGs, bancos e empresas na Operação Aquarela. Pegar mais de 33 mil páginas de documentos e extratos bancários das Ilhas Jersey e transformá-los num relatório de 40 páginas, capaz de iniciar uma ação contra o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf. Essas tarefas estão, desde ontem, consolidadas num poderoso sistema localizado a um quilômetro da Esplanada dos Ministérios.

Inaugurado pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, o Laboratório de Tecnologia Contra Lavagem de Dinheiro é capaz de processar uma quantidade imensa de informações, entregando às autoridades apenas o essencial. Instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil, atrás da Esplanada dos Ministérios, o Laboratório vem sendo testado nas últimas operações de combate ao crime. Ele permitiu identificar entre centenas de ligações telefônicas, aquelas que mostraram o então governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, negociando a repartição de dinheiro com o ex-presidente do Banco de Brasília, Tarcísio Franklin de Moura. Moura foi preso na Operação Aquarela e Roriz está com o seu mandato de senador ameaçado pelo episódio.

Tarso Genro afirmou que o Laboratório é importante para equipar as autoridades de mecanismos de tecnologia de ponta contra quadrilhas que também utilizam meios eletrônicos para cometer crimes. "As tecnologias também levaram à evolução do crime em escala global", justificou o ministro.

O sistema funciona em parceria entre o Departamento de Recuperação de Ativos do Ministério da Justiça (DRCI), a Controladoria-Geral da União (CGU) e o Banco do Brasil e estará à disposição de órgãos de investigação, como a Polícia Federal e o Ministério Público. O Coordenador do Laboratório, Marcelo Stopanovski, explicou que ele funciona através de sistemas de depuração das informações. Há um sistema de mineração de textos que permite identificar, entre todas as informações sobre um suspeito, qual é a importante para as investigações. E há outro sistema que mostra redes de relacionamento entre suspeitos.

Para o BB, o laboratório pode ser útil na redução de fraudes, explicou Edson Lobo, gerente-geral de Segurança da instituição. "Se há uma área que sofre com os crimes de lavagem de dinheiro é o sistema financeiro", disse Lobo. "Com um sistema de inteligência melhor, o combate será mais eficaz e haverá repercussão disso no mercado", completou.

O ministro Jorge Hage, da CGU, defendeu outras medidas para combater o crime financeiro, como a flexibilização dos sigilos bancário e fiscal. Segundo ele, os sigilos deveriam ser disponibilizados entre Polícia Federal, Receita, Ministério Público, Tribunal de Contas da União e CGU, num total compartilhamento de informações sobre pessoas suspeitas. Questionado sobre a possibilidade de essas pessoas sofrerem abusos com o fim dos seus sigilos, Hage respondeu: "Não pode ser a pretexto do risco de abusos que se inviabilize, se dificulte a apuração dos crimes". Para o ministro do Controle e da Transparência, o Brasil vive um problema oposto: a transformação da noção de sigilo bancário e fiscal num tabu. "Não estou me referindo a quebra de sigilo para divulgação publica, mas ao compartilhamento entre os órgãos que têm responsabilidades de apuração."

A diretora do DRCI, Maria Rosa Loula, enfatizou que, agora, as autoridades dispõe de um sistema mais avançado do que as quadrilhas organizadas. "Com o laboratório, nós somos carros de luxo e os criminosos se tornam pangarés."