Título: Setor sucroalcooleiro cria empregos para baixa e alta qualificação
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 05/07/2007, Especial, p. A14

A dura rotina do corte de cana não assusta Cristiane Alves. Com 28 anos, ela enfrenta os canaviais há 11, ao lado de sua mãe e de sua irmã. Para Cristiane, o trabalho é pesado, mas o salário é bastante razoável. Ela recebe de R$ 780 a R$ 800 por mês, cortando uma média de 9 a 10 toneladas por dia. Seu dia começa cedo, às 4h30.

Na plantação, o trabalho vai das 6h30 ou 7 horas até pouco depois das 16 horas. Ela chega em casa por volta das 17h30 e às 20h30 já está dormindo. "Não consigo nem ver a novela", brinca Cristiane, mãe de três filhos, de 12, 10 e 4 anos. Sorridente, conta que gosta do trabalho, afirmando que é necessário ter mais jeito do que força para cortar a cana - além de muita resistência. Cristiane diz que estudou pouco - não fala quanto -, "porque não teve oportunidade".

Cristiane é uma das 1,1 mil pessoas empregadas pelo grupo Unialco no corte da cana para atender a unidade de Guararapes. O setor cria muitas vagas como essa - um trabalho duro para pessoas com baixa qualificação. Nos próximos anos, esse número deve diminuir devido ao avanço da mecanização, que vai se acelerar devido à intenção do governo de São Paulo de apressar o fim das queimadas de cana-de-açúcar no Estado. Cristiane, aliás, diz que teme a mecanização da colheita: "É o que eu sei fazer e não há outro trabalho como esse por aqui", afirma ela, que mora em Rubiácea, na região de Araçatuba.

Edson Costa, 25 anos, dois filhos, por sua vez, veio de Capelinha, em Minas Gerais. É um dos muitos mineiros do Vale do Jequitinhonha que trabalham nos canaviais do Oeste Paulista. Cortador eficiente, Costa ganha R$ 1,3 mil por mês. Ele diz que o salário é razoável, mas acha que merecia ganhar mais, porque o trabalho é muito duro. Ele planeja trabalhar apenas mais um ano e depois voltar para São Paulo, onde já trabalhou na construção civil. Seu objetivo, porém, é outro: quer ser cabeleireiro. Já fez o curso de corte masculino e planeja fazer o feminino.

Se gera empregos de baixa qualificação, o setor também cria alguns bastante qualificados - e com boa remuneração. Claudio Luis Nunes é atualmente superintendente-comercial do grupo Unialco. Conhece o setor desde 1979. Naquele ano, entrou no grupo Aralco como office-boy. Ao longo dos anos, foi se qualificando. Primeiro, fez um curso de técnico em açúcar e álcool, o que lhe permitiu trabalhar na parte industrial da usina. Depois, fez faculdade de administração de empresas, pós-graduação em marketing e agora faz o primeiro MBA de gestão empresarial da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em Araçatuba. Em 2004, tornou-se corretor de açúcar e álcool em São Paulo, mas a experiência durou cerca de um ano. Em 2005, surgiu o convite do Unialco, e Nunes se tornou superintendente-comercial do grupo. Um cargo como o de Nunes é bem remunerado: paga salários na casa de R$ 20 mil por mês.

Ele aproveita o bom momento de Araçatuba para investir na construção civil. Constrói e vende casas em condomínios de alto padrão, o que lhe garante uma renda adicional.