Título: Arruda se declara de direita e diz que quer fazer gestão "liberal clássica"
Autor: Izaguirre, Mônica e Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 03/07/2007, Especial, p. A16

Único governador do DEM, José Roberto Arruda se declara um "liberal clássico" que pensa exatamente o contrário do hóspede mais ilustre de Brasília. "Eu tenho coragem de dizer que sou de direita e estou implantando um modelo de governo liberal clássico", diz. "Eu me dou muito bem com o Lula mas penso tudo ao contrário dele."

Por liberal clássico Arruda entende a redução do tamanho do Estado e fim do clientelismo e patrimonialismo. Exemplo: quando assumiu o governo, o Distrito Federal gastava R$ 12 milhões de aluguel em 144 prédios alugados. Devolveu 86% deles e reduziu a despesa para R$ 1,3 milhão. Pretende zerar a despesa até o fim do ano. Adotou o mesmo modelo de gestão de empresas privadas como o Bradesco e a Ambev, com secretários despachando com ele num antigo quartel da cidade. "Derrubar divisórias é eficiência", diz. Havia 31.500 cargos de livre provimento, mais que a União, baixou para 8 mil. O mesmo tipo de carro era alugado por uma secretaria por R$ 7 mil ao mês e, por outra, por R$ 3 mil. Devolveu os dois. Um mesmo computador custava R$ 52 no BRB e R$ 200 na administração direta. Do mesmo fornecedor.

O caso mais gritante é o do metrô. Enquanto o do Rio, de gestão privada, tem 182 carros, 1.800 funcionários e transporta 600 mil passageiros/dia, o de Brasília, com 52 carros e 74 mil passageiros/dia, tem 1.200 funcionários. A manutenção do metrô do Rio custa R$ 36 milhões/ano, o de Brasília, R$ 86 milhões. A licitação foi cancelada.

Ao assumir, Arruda poderia nomear 11 mil cabos-eleitorais sem concurso numa ONG denominada Instituto Candango de Solidariedade. "Eu ganhei dois inimigos: os cabos eleitorais do governo antigo, que eu demiti do ICS, e os meus, que eu não nomeei", diz. A dívida com os fornecedores também foi renegociada. Com todas essas medidas, Arruda acredita que paga o que deve e ainda economiza R$ 300 milhões para investimentos.

O liberal clássico no entanto prefere outra solução à privatização do Banco de Brasília: transformá-lo em banco de fomento, com 30% das aplicações do Fundo Constitucional do Nordeste. Os entendimentos com o Banco do Brasil e o Banco Central estavam adiantados, quando dois dois ex-presidentes do BRB foram presos em recentes operações da Polícia Federal. A privatização, no entanto, não está descartada.

Arruda diz que não se preparou para um vôo tão alto quanto disputar a Presidência da República, como sugerem dirigentes do DEM. Diz que "sofreu muito" com o episódio da violação do painel do Senado - que o levou à renúncia - e quer ter uma vida pessoal depois da política. Mas como único governador do DEM, não descarta essa possibilidade. (MI e RC)