Título: Kirchner desiste da reeleição e lança sua mulher para sucedê-lo
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 02/07/2007, Internacional, p. A11

A senadora Cristina Fernández de Kirchner, do Partido Justicialista, mulher do presidente Néstor Kirchner, será a candidata governista nas eleições de outubro para a Presidência da Argentina. O anúncio oficial deve ser feito dia 19 de julho, em La Plata, cidade natal da senadora e capital da Província de Buenos Aires. A notícia foi publicada ontem por dois dos jornais mais importantes da Argentina, o "Clarín" e o "Página 12", e depois confirmada pela agência oficial de notícias do país, a Telam.

A decisão teria sido tomada semana passada, em seguida à derrota do candidato apoiado por Kirchner, o ministro da Educação, Daniel Filmus, a governador da capital do país, Buenos Aires - o vencedor foi o empresário Maurício Macri, de oposição. E teria sido anunciada aos potenciais candidatos a vice-presidente na chapa de Cristina. O mais cotado para compor a chapa é o governadores Julio Cobos, da Província de Mendoza, que não pode se reeleger.

O presidente Kirchner já vinha lançando o nome de Cristina como potencial candidata desde o ano passado. Em discursos, falava de reeleição jogando uma "pista" para os eleitores: "O próximo presidente será pingüim ou pingüim-fêmea", dizia, referindo-se ao bichinho símbolo de sua terra natal, Santa Cruz, na Patagônia.

Os principais analistas políticos do país apostavam que, com esta metáfora, Kirchner estava testando a reação dos eleitores e tomando tempo até que reunisse as informações suficientes para decidir se se lançava à reeleição ou se lançava a esposa. A intenção, dizem os analistas, é garantir pelo menos mais oito anos de poder, se revezando com Cristina e evitando, dessa forma, uma derrota causada pelo desgaste do primeiro mandato.

Kirchner, que assumiu em maio de 2003, está desgastado. Quatro pesquisas de opinião pública, divulgadas ontem pelo "Clarín", mostram que Kirchner tem entre 52,5% e 55% das intenções de voto no país e 52% de imagem positiva. Embora sejam suficientes para vencer em primeiro turno, estes números mostram um acentuado declínio em comparação aos dois primeiros anos do governo, quando Kirchner chegou a ter 80% de aprovação. Já Cristina mantém uma margem de 46% a 48,2% de intenção de voto, e 61% de imagem positiva. Mas poderá ter de disputar um segundo turno, dependendo do desempenho da oposição.

No entanto, até agora o casal Kirchner praticamente não tem oposição. Entre os candidatos já declarados a concorrer à vaga de presidente - Roberto Lavagna, Elisa Carrió, Ricardo Lopez Murphy e Carlos Menem - , o que tem maior intenção de votos entre o eleitorado é a deputada de esquerda Elisa Carrió: de 15% a 16%.