Título: Semestre positivo para preços dos grãos
Autor: Lopes, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 02/07/2007, Agronegócios, p. B12

Com presença marcante de fundos de investimentos e extremamente contaminados pela febre dos biocombustíveis, o mercado de grãos encerrou o primeiro semestre deste ano com preços médios bem acima da média histórica na bolsa de Chicago.

Conforme cálculos do Valor Data (baseados nas médias semestrais dos contratos futuros de segunda posição de entrega), o milho alcançou US$ 3,9560 por bushel, 64,17% acima da média registrada entre janeiro e junho do ano passado; na mesma comparação, a soja subiu 29,76%, para US$ 7,7020 por bushel.

Os mesmos fatores - e mais o clima nos Estados Unidos, que também tornou-se referência importante nos últimos dois meses - tendem a guiar as cotações no segundo semestre. E as evidências atuais levam a crer em preços atraentes, ainda que os riscos derivados dos fundamentos dos mercados e da movimentação dos fundos não deixem espaço para projeções ambiciosas.

"A euforia com o etanol permanece nos EUA, mas já houve um desaquecimento no mercado de milho por conta da confirmação do aumento da área plantada com o grão no país. Nesse contexto, os fundos reduziram sua participação nesse mercado", diz Flávia Moura, da Fimat Futures.

A disparada do milho em Chicago no início deste ano levou a soja de carona, e que essa influência mútua, apesar de ter perdido força, é tradicional e vai perdurar.

Flávia destaca que, no início de 2006, os fundos chegaram a ter 400 mil contratos comprados de milho em Chicago, e que esse montante caiu para 230 mil. O complexo soja (grão, farelo e óleo) viveu situação semelhante, e hoje os contratos comprados somam 205 mil. Os contratos em aberto - "posições novas, dinheiro novo no mercado", segundo a analista - chegam a 532 mil, o que é um sinal positivo, mas mesmo esse total era maior há duas semanas.

Em junho, o preço médio do milho alcançou US$ 3,8921 por bushel na bolsa americana, 3,77% mais que a média de maio. No ano, a variação positiva acumulada - segundo o critério de médias mensais - chega a 2,35%, e nos últimos 12 meses a 55,91%. Para a soja, a cotação média de junho alcançou US$ 8,3174, 6,55% maior que a do mês anterior e com altas de 22,84% em 2006 e de 39,55% em 12 meses. Na sexta-feira, por causa do relatório do USDA, a soja subiu 4,8% e o milho recuou 2,9% em Chicago.

Neste segundo semestre, as cotações dependerão da decisão dos fundos de aliviar mais ou não sua presença - e isso dependerá, em grande parte, mas não só, dos chamados "fundamentos" de cada uma das culturas. E esses fundamentos ganharam novas cores na sexta-feira, após a divulgação de um relatório do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) que trouxe estimativas que surpreenderam muitos especialistas.

No caso do milho, o vínculo com os preços do petróleo e com a demanda para a produção de etanol dá todas as mostras de que veio para ficar; no da soja, sobretudo no último trimestre as atenções também estarão voltadas para as previsões para a próxima de verão na América do Sul, principalmente no Brasil.

Mas nem só de milho e soja vive a bolsa de Chicago, e para os preços do trigo a fase é positiva devido ao baixo nível de estoques globais. O cereal encerrou o primeiro semestre com cotação média de US$ 5,0070 por bushel, 33,66% acima da média de igual intervalo do ano passado.

"A produção mundial deve crescer na safra 2007/08, mas a oferta será inferior em razão dos baixos estoques. Portanto, o cenário fundamental é altista para o segundo semestre", afirma Élcio Bento, da Safras&Mercado. Até agora, ajudaram a alavancar os preços os problemas de oferta na Austrália - que deve se recuperar, mas não totalmente -, Rússia e Canadá.

Na bolsa de Nova York, o destaque positivo na comparação entre os preços médios dos primeiros semestres de 2007 e de 2006 foi o suco de laranja. Sustentada pelo comportamento no início deste ano, a alta chegou a 23,58%, mas os preços já registraram forte declínio nos últimos meses, e de janeiro a junho a queda já supera 30%.

A relação semestral aponta ganhos também para cacau (21,01%), que deve perder fôlego, e café (4,97%), cujos fundamentos permitiriam cotações melhores. As variações negativas ficaram com açúcar (40,73%), que não enxerga sustentação consistente no médio prazo, e algodão (1,6%). Aqui, há um alento: no relatório do USDA, a área plantada prevista para os EUA em 2007/08 é a menor desde 1989 - o que, no dia, motivou o maior preço da história em Nova York.