Título: BNDES cria estratégia contra a escassez
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 02/07/2007, Finanças, p. C4

Pela primeira vez nos últimos cinco anos, o BNDES está traçando uma estratégia para contornar a possível escassez de fundos caso a demanda por empréstimos ultrapasse o orçamento para projetos estimado para este ano entre R$ 58 bilhões a R$ 61 bilhões. Desde 2003 o banco vinha tendo folga de caixa e não cumpria o orçamento fixado por falta de demanda. Maurício Borges Lemos, diretor da área financeira do banco, disse que a maior parte do dinheiro já está garantida. "São R$ 48 bilhões que deverão entrar no caixa do banco por retorno de financiamentos", disse.

A área financeira também conta com mais R$ 2 bilhões que virão do FAT Constitucional, a que o banco tem direito. Este é o resultado líquido dos recursos deste fundo, porque a instituição deve receber cerca de R$ 8 bilhões, mas tem que remeter R$ 6 bilhões para remunerar as contas do PIS-Pasep. Não está afastada ainda a possibilidade de entrar recursos do FAT Especial.

Em 2006, o banco recebeu dessa rubrica do FAT R$ 6,1 bilhões. Hoje, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, estará com o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, para tratar desta questão, entre outras. Mas, Lemos acredita que o valor a ser destinado ao BNDES poderá ser inferior ao obtido em 2006, porque a TJLP, que remunera o FAT Especial, está sendo reduzida.

O diretor do BNDES disse que o banco não pretende fazer novas captações no mercado externo para engordar seu cofre. "Não queremos ajudar a derrubar o câmbio", disse Lemos. Mas, adiantou que o BNDES está para renovar em condições favoráveis uma dívida de bônus que vence em agosto, de US$ 500 milhões. "Isto vai ser uma espécie de reentrada do banco mercado internacional". Além desta operação lá fora, está entrando US$ 1 bilhão do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID), decorrente de um convênio assinado no ano passado.

Em termos de captações, a idéia é priorizar o mercado interno, seja por debêntures - o banco está colocando uma segunda tranche de R$ 1 bilhão de debêntures simples no mercado doméstico, que pode chegar a R$ 1, 35 bilhão. Outro instrumento a ser usado se o orçamento estourar é a colocação de ações da carteira da BNDESPar no mercado.

A recuperação de crédito é outra fonte de recursos na qual o banco vem trabalhando. O acordo feito para o pagamento da dívida de US$ 1 bilhão pela AES faz parte deste programa que envolve outros devedores com os quais o banco está negociando. Lemos deixou claro, porém, que o débito da AES Cemig não vai entrar integralmente no fluxo de caixa do BNDES porque já foi provisionada há muitos anos e entrou como crédito tributário. "Pelo menos 40% deste US$ 1 bilhão vai ser para pagar imposto".

O BNDES trabalha com cenário de crescimento contínuo dos investimentos pelo menos até 2010. Já este ano, o banco estará em outro patamar de desembolso. Na projeção de Lemos, em 2007 as liberações de recursos da instituição deverão superar R$ 60 bilhões, batendo recorde histórico. Em 2002 o banco pulou para o patamar de R$ 30 bilhões de desembolso, em 2005 saltou para o de R$ 40 bilhões e , em 2006, cravou em R$ 51,3 bilhões. Lemos acredita que em 2008, a se manter a tendência e com a demanda do Plano de Aceleração do Crescimento, o BNDES deve superar os R$ 60 bilhões de novo.

"Acredito que os recursos para 2007 já estão em parte resolvidos, minha preocupação maior agora é com 2008", afirmou. Ele disse que este ano está previsto um desembolso de R$ 4,2 bilhões para os projetos do PAC, mas tem uma carteira muito maior que vai pressionar para a frente. "O ano que vem isto vai crescer e as liberações para estes empreendimentos podem chegar entre R$ 6 a R$ 7 bilhões, quase o dobro de 2007".

A carteira do PAC que está hoje aprovada, em análise, enquadrada e em perspectiva no BNDES soma 126 projetos que montam cerca de R$ 100 bilhões em investimentos. O potencial de financiamento do banco é de R$ 53 bilhões, dos quais R$ 31 bilhões só para a área de energia.

Por conta disto, Lemos já começou a montar os desenhos das operações de busca de fundos para 2008, com destaque para colocação de uma nova tranche de debêntures simples, caso a segunda tranche tenha o sucesso da primeira lançada no ano passado, que captou R$ 600 milhões. Até lá, a continuar a excepcional situação de liquidez no mercado internacional, o banco poderá retomar as captações externas hoje restritas a organismos multilaterais, como o BID e o Banco Mundial, dentre outros.