Título: Política industrial muda e dará incentivo à geração de emprego
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 28/06/2007, Brasil, p. A5

Empresas geradoras de emprego, multinacionais com subsidiárias no Brasil e fabricantes nacionais de commodities com atuação no exterior serão alvo de medidas de incentivo, na nova política industrial a ser anunciada em até três meses, informaram o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho.

Falando a uma comissão da Câmara dos Deputados, Jorge e Coutinho lamentaram a valorização do real. Enquanto o ministro diz acreditar ser possível reduzir o custo da folha de pagamentos das indústrias ainda neste ano, Coutinho considera "complicada" a desoneração da folha, que diz não ser possível "em curto prazo".

A pedido de Miguel Jorge, Coutinho explicou, aos deputados da Comissão de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, as linhas gerais da nova política industrial, que, como disse, ainda será submetida ao Conselho de Política Econômica, para que "se transforme em política do governo, não só uma proposta conjunta do Ministério do Desenvolvimento e do BNDES".

O governo vai dar apoio às subsidiárias de multinacionais em "setores e complexos importantes" como o automobilístico, "para que possam disputar o mercado internacional com novos produtos, com base no Brasil", explicou o presidente do BNDES. O banco se esforçará para "reforçar o papel das bases brasileiras nas grandes empresas automobilísticas internacionais", para atrair uma nova onda de investimentos. Está previsto, também, apoio às exportações, inclusive de veículos como caminhões e ônibus.

No caso de grandes empresas brasileiras produtoras de commodities (mercadorias padronizadas com preço fixado internacionalmente), o governo terá planos para facilitar a expansão mundial dessas companhias, como fez neste mês com o frigorífico Friboi, que teve apoio do BNDES para comprar a americana Swift e tornar-se o maior exportador de carne mundial.

"Será uma grande empresa abatedora de carne, o maior frigorífico do mundo, atuando na America do Sul, na Austrália e nos Estados Unidos, que é o maior mercado", comemorou Coutinho. "Vai ajudar a reduzir as barreiras para exportação de carne bovina, uma vez que a Swift é a segunda maior produtora de carne bovina nos Estados Unidos", previu. Ele indicou que haverá medidas adicionais para esse tipo de negócio.

Além de "reforçar" políticas existentes, de apoio à inovação e produção com alto conteúdo tecnológico (nanotecnologia, tecnologia digital, eletroeletrônica), a nova política industrial terá medidas como o recém-anunciado Revitaliza, pelo qual o BNDES dará financiamento com juros menores que os do mercado para apoiar exportação de empresas nos setores de confecções, móveis, calçados, artefatos de madeira e têxtil.

Além de incentivar projetos de exportação, o governo vai estimular, nesses setores, o investimento em pesquisa e desenvolvimento de produtos, informou o presidente do BNDES.

"A competição da indústria, em preços, com a manufatura da Índia ou da China é muito difícil de vencer", comentou. "Nos setores intensivos em emprego, onde a pressão competitiva é muito forte, nossa estratégia terá de ser necessariamente inovadora e de diferenciação", disse Coutinho. "Vamos especializar a manufatura brasileira crescentemente em produtos diferenciados, que possam competir comandando uma margem de lucro mais alta", defendeu. "Temos de fugir da competição em custos, buscando restruturação desse setor para viabilizar sua sustentabilidade e perenidade", afirmou o presidente do BNDES.

Coutinho previu uma tendência declinante para os saldos no comércio exterior brasileiro, que, em 2008, deverão ficar abaixo deste ano. A redução do saldo, somada à queda "mais incisiva" na taxa de juros, deverá ter efeitos positivos sobre o câmbio, reduzindo a pressão para valorização do real, acredita ele. O ministro Miguel Jorge também afirmou que considera que a taxa de juros do país está "acima do desejável".

O ministro foi franco ao lhe perguntarem se não deveria "comprar briga" com a equipe econômica por mais condições de uma política de desenvolvimento . "Divirjo de muitas coisas (no governo), não sou do partido (do presidente, o PT), minhas relações não são relações políticas com esse governo", revelou. "Poderia estar muito à vontade para fazer críticas, mas, se as tiver, farei internamente", afirmou, ao defender que as divergências no governo não sejam levadas a público.