Título: Lula rouba a cena de Aécio em anúncio de verbas do PAC em Minas
Autor: Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 28/06/2007, Política, p. A8

O novo jeito de fazer política, com troca de amabilidades e conversa ao pé do ouvido com tucanos, ainda não foi bem assimilado nas bases eleitorais do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Não adiantou Lula trocar confidências com o governador Aécio Neves (PSDB) durante com toda a solenidade de anúncio de verbas do Plano de Aceleração de Crescimento (PAC) em Minas para fazer a platéia, cerca de 1,7 mil pessoas, compreender o recado.

O governador de Minas acabou vaiado, ontem, no maior teatro do seu Estado, o Palácio das Artes. A popularidade do presidente da República junto às camadas mais populares ofuscou o brilho do governador mineiro em seu próprio território. O jeito de fazer política de Lula pode ser novo, mas, pelo que se viu ontem, o entendimento do seu eleitorado ainda é o antigo: tucanos são inimigos. Incluindo o governador Aécio, que já foi criticado por priorizar o déficit zero cortando gastos sociais.

As vaias foram ficando mais sonoras cada vez que o nome do governador era citado. Uma pequena claque pró-Aécio, com bandeiras tucanas em punhos, bem que tentou mas não conseguiu abafar a manifestação petista.

O anúncio das verbas para Minas - um total de R$ 3,6 bilhões - ocorreu em clima dos melhores eventos de campanha petista, com as grandes grifes do partido - como o ministro Patrus Ananias, além do próprio Lula - sendo ovacionadas pela platéia, nada de protestos. Quase levitando - como ele mesmo se definiu naquele momento - Lula pôde desfiar todo seu rosário de conquistas.

Neste ambiente desfavorável, sobrou para Aécio Neves fazer o que sabe fazer bem, discurso político. Foi logo dizendo que, apesar de ser do partido de oposição, como homem de bem reconhecia o empenho do governo federal para um "entendimento democrático". Superar constrangimentos partidários, deixou claro, não é problema para ele. Não perdeu a oportunidade de posar como grande defensor dos interesses de Minas, cobrando a inclusão de duas obras num "segundo tempo do PAC", a conclusão das linhas de metrô de Belo Horizonte e a ampliação do Aeroporto Tancredo Neves.

Falando para uma maioria de representantes de movimentos populares , o presidente Lula garantiu que, sem a pressão da reeleição, poderá fazer mais e melhor pelo Brasil. "Vou aumentar o Bolsa Família sim", prometeu. "Você não sabe, Aécio, a tranquilidade que é não ter de disputar reeleição", brincou.

O presidente admitiu que não está tudo pronto no país. "Apenas tiramos o paciente do coma que estava", explicou. "O paciente está na rua fazendo ginástica, para ficar robusto e não voltar ao hospital.

Segundo o principal benefício das obras do PAC são, a partir do momento que os prefeitos fazem as licitações, a geração de emprego e renda. Porque as construtoras vão abrir novos postos de trabalho, com salários os trabalhadores vão voltar a consumir e isso inicia todo um processo de pujança nos Estados.

O presidente afirmou que se angustiava com a limitação do endividamento dos Estados que não podiam fazer investimentos. Segundo ele, Estados que ao contrário de São Paulo e Minas - que já tiveram seus limites de endividamento ampliados - não puderem contrair novos empréstimos, vão poder contar com a União para não prejudicar a população local. Quarenta e três municípios mineiros serão beneficiados pelas verbas anunciadas ontem. Do total de R$ 3,6 bilhões, R$ 3 bilhões são recursos federais. A contrapartida do Estado será de R$ 279,7 milhões. A dos municípios, 328,6 milhões.