Título: Consolidação ronda pequenas operadoras
Autor: Moreira, Talita
Fonte: Valor Econômico, 28/06/2007, Empresas, p. B3

Quando era presidente da Sky, Ricardo Miranda costumava dizer que a consolidação no mercado de TV por assinatura era inevitável e que deveriam restar, no Brasil, "uma empresa no céu e outra na terra" - numa referência às operadoras de satélite e de cabo. Agora, à frente da TV Cidade, o executivo esforça-se para mostrar que a máxima estava parcialmente errada.

No céu, a fusão entre Sky e DirecTV resultou na criação de uma empresa que tem 95% do mercado. Na terra, a Net tem exercido seu papel de consolidadora no segmento de cabo, mas agora tem em seu encalço as operadoras de telefonia, interessadas em competir na TV paga.

Mesmo assim, segundo Miranda, a TV Cidade tem condições de resistir à concentração e sobreviver sozinha. Ou, mais precisamente, o executivo afirma que um caminho viável é atrair outras empresas do setor para se unir à operadora - que é a quarta maior do país - e se tornar acionistas dela. Assim, ganha-se escala para fazer frente ao avanço dos pesos-pesados do setor.

Uma transação desse tipo já foi feita quando os Diários Associados incorporaram à TV Cidade a rede de cabo que tinham no Recife (e nunca haviam utilizado). Agora, o grupo de comunicações detém 5% da empresa.

Mas Miranda, assim como executivos das demais prestadoras de TV a cabo e MMDS (microondas) que atuam no Brasil, sabe que sobreviver em terra de gigantes não é tarefa das mais fáceis. Talvez nem seja o ideal.

Depois da fusão entre Sky e DirecTV, da compra da Vivax pela Net e da proposta de aquisição de parte da TVA pela Telefônica, todas as atenções agora estão voltadas para as pequenas e médias empresas do mercado. Ninguém no setor tem dúvidas de que o processo de consolidação vai continuar. O que todos, sem exceção, avaliam é como aproveitar a onda da forma mais lucrativa.

Fundos de participações nacionais e estrangeiros têm sondado algumas operadoras com o intuito de promover uma fusão entre elas e depois levá-las à bolsa. Em nome de um deles, a consultoria americana Daniels & Associates - especializada em fusões e aquisições em TV por assinatura - enviou representantes ao Brasil algumas semanas atrás com uma proposta que consistiria em unir TV Cidade, BigTV e Viacabo. A idéia é criar uma empresa mais encorpada e fazer uma oferta de ações na Bovespa.

A TV Cidade tem como acionistas SBC, holding do grupo Silvio Santos (30% do capital votante), Band (16%), Diários Associados (5%) e os fundos Hicks, Muse, Tate & Furst (25%) e Latin America Infrastructure Fund (24%). A operadora está presente em 19 municípios - a maioria deles no Nordeste - e faturou R$ 100 milhões no ano passado.

A BigTV está em 12 municípios nos Estados de São Paulo, Paraná, Alagoas e Paraíba. A operadora é controlada pelo grupo Alusa, mais conhecido por sua atuação no setor de energia, e também obteve receita de aproximadamente R$ 100 milhões em 2006.

A Viacabo atua no Centro-Oeste, Sudeste e Sul. É controlada por investidores brasileiros e pela Adelphia, companhia americana que quebrou e vendeu todas as suas operações nos EUA. Os credores da empresa buscam uma solução para os ativos que restaram como a operadora brasileira e são entusiastas da idéia de fusão, segundo apurou o Valor.

A sede da Adelphia é Greenwood Village, cidade vizinha a Denver, no Colorado, onde fica a Daniels & Associates. Procuradas, as duas empresas não haviam se pronunciado até o fechamento desta edição.

"Fomos abordados há cerca de um mês e meio, mas depois disso não houve mais contatos", afirma Miranda. "É natural que haja interesse de fundos porque há muito dinheiro no mercado."

O diretor da BigTV, Gustavo Godoy, também afirma ter sido procurado por representantes da consultoria americana. O presidente da Viacabo, Paulo Martins, limita-se a dizer que já ouviu "coisas desse tipo".

Embora a fusão seja uma hipótese bastante plausível - dado que se trata de um momento de grande liquidez internacional, em que os fundos estão buscando oportunidades para investir -, há outras cartas na mesa.

"Todo mundo está conversando com todo mundo", reconhece Martins. Diversas possibilidades estão em análise pelas empresas.

Segundo Godoy, a BigTV foi sondada pela Telefônica no ano passado e, mais recentemente, despertou o interesse da Net. "Vender para uma empresa da área é o mais provável", diz. Por meio da assessoria de imprensa, a Net informa que não fez qualquer proposta pela BigTV, mas ressalva que sempre avalia oportunidades no mercado.

Outra alternativa não descartada pelas empresas é irem individualmente ao mercado para abrir o capital. Porém, a idéia esbarra numa dificuldade: falta tamanho a essas operadoras.

Quando foi ao mercado, no início de 2006, a Vivax tinha faturamento bruto anual de quase R$ 315 milhões. A soma das vendas de BigTV, Viacabo e TV Cidade não chega a esse valor. Juntas, as três têm pouco mais de 300 mil assinantes de TV e perto de 100 mil em banda larga.

"Já pensamos numa abertura de capital, mas a empresa, sozinha, ainda não tem porte para isso", afirma Godoy, da BigTV.

Mas, para o executivo, alguma solução é necessária. Na avaliação dele, as operadoras de pequeno e médio porte serão cada vez mais pressionadas por grandes competidores - e o cenário tende a ficar ainda mais complexo com a entrada das teles no mercado de TV.

O diretor-executivo da Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA), Alexandre Annenberg, concorda. "É uma indústria de capital intensivo, que precisa de economias de escala para fazer os investimentos necessários", diz. A expectativa dele é de que, após o processo de consolidação, reste apenas uma operadora de cabo em cada região.

Para o consultor Jean Claude Ramirez, da Bain & Company, o momento é de concentração, seja entre prestadoras de serviços que atuam numa mesma área, seja entre empresas que estão em regiões diferentes. Na avaliação dele, é razoável que essas operadoras sejam avaliadas com múltiplos de sete a dez vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações. No caso da venda da Vivax para a Net, esse indicador ficou próximo de dez vezes.