Título: Ex-presidente descarta comando da sigla
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2007, Política, p. A14

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso negou ontem que assumirá a presidência do PSDB no próximo ano. "Você acha que, aos 76 anos, eu faria isso? Não vou ser presidente do partido", respondeu bem-humorado, ao ser questionado se cederia aos apelos de figuras do PSDB e até de colunistas políticos. "Já sou presidente de honra do partido." Ao seu lado, o historiador Boris Fausto, confirmava: "Desta vez, acho que ele está falando a verdade."

Embora mantenha-se firme na intenção de não assumir o atual posto de Tasso Jereissati, o ex-presidente deu ontem mais uma indicação de que é a figura mais importante do partido e, em evento no Instituto Fernando Henrique Cardoso, indicou o que pode ser a bandeira do PSDB na próxima campanha presidencial: o combate à impunidade e à substituição do Estado por grupos extralegais.

"No Brasil, se a arquitetura institucional está armada, ela está sem alma", afirmou o presidente, ao fazer uma comparação entre Brasil e México em evento que discutiu os desafios futuros dos dois países - já que ambos, apesar da conquista da estabilidade, vêm apresentando um crescimento econômico abaixo dos demais emergentes. "Aqui, não se crê mais na lei, a impunidade grassa", disse Fernando Henrique Cardoso. Ele considerou que, apesar da baixa taxa de crescimento, o Brasil coleciona vários avanços nos últimos anos, como a evolução da qualidade do produto do país e o avanço da democracia e das instituições. Mas disse que é grave o retrocesso de alguns valores da população e das formas de coesão.

Em uma apresentação surpreendente para quem sempre foi apontado pela oposição como neoliberal e a favor do mercado financeiro, FHC fez uma crítica à ênfase dada atualmente à economia. "Sinto no Brasil um coroamento do mercado. Não sou inimigo do mercado, mas não posso acreditar que um país seja o mercado", afirmou FHC. Para ele, o mercado financeiro vai bem e é a única estrutura tradicional nessa condição. Outros núcleos básicos da sociedade, como a família, a escola e a religião, passam por transformações. "Mas não se pode olhar só para o lado da economia. É preciso também ver o lado da sociedade."

Se depender do grupo ligado a José Serra no PSDB, a candidatura de Geraldo Alckmin para a presidência do partido está fora de cogitação. A renovação da legenda está prevista para novembro, mas Alckmin já prepara uma "caravana" para percorrer o país e reorganizar a sigla.

A resistência dentro da legenda é grande e os "serristas" são uma das alas mais resistentes à candidatura de Alckmin na sucessão do senador Tasso Jereissati (CE) no comando do PSDB.

Próximo a Serra, o vice-governador de São Paulo, Alberto Goldman afirma que Alckmin não será o presidente do partido. "Alckmin não é candidato à presidência do PSDB", afirmou. "Se ele tem pretensões eleitorais, isso fica inviável. Como é que ele quer ser presidente do PSDB se no ano que vem ele pode ser candidato à Prefeitura de São Paulo? Não tem lógica." Para Goldman, o mais cotado hoje para assumir o comando do PSDB é o senador Sérgio Guerra (PE). "Ele é o que mais tem chance", diz. O parlamentar tucano coordenou a campanha à Presidência de Geraldo Alckmin em 2006 e seu nome é defendido por diferentes alas no partido.

A escolha do novo presidente do PSDB está prevista para novembro, quando será realizada a convenção partidária. Dentro da legenda, cogita-se antecipar a troca da direção partidária para setembro, no congresso da sigla.

Neste fim de semana, o PSDB realiza seminário em São Paulo com a presença de FHC, Serra, Alckmin e do presidente nacional do partido, Tasso Jereissati. O seminário é promovido pela juventude paulista da legenda e visa à formação de novas lideranças.