Título: PSDB sai em defesa de privatizações e de FHC
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 22/06/2007, Política, p. A14

Os tucanos retomaram os temas que enjeitaram na campanha presidencial do ano passado, como as privatizações e a rede de proteção social criada no governo Fernando Henrique Cardoso, no programa nacional de rádio e TV do partido, veiculado ontem à noite. A orientação política da peça publicitária é da direção do PSDB e levou em conta uma pesquisa realizada pelo sociólogo Antonio Lavareda, além da opinião dos caciques partidários.

Num programa curto - teve apenas quatro minutos - e ágil, o PSDB trata de assegurar a paternidade do Plano Real e da estabilidade econômica. Uma das preocupações do partido, já manifestada inclusive pelo ex-presidente Fernando Henrique, é que o governo Lula, com o tempo, acabe sendo também identificado como o criador do Real, como hoje é confundido com a estabilidade da economia.

O lançamento do Plano Real, "quando derrotamos um inimigo de quase 50 anos (a inflação)", é equiparado a momentos importantes que mudaram a história do país, como a independência, a proclamação da República e a campanha das diretas já. Se hoje a moeda é forte, diz o PSDB, é porque o Real acabou com a inflação e permitiu que o país tivesse "o maior crescimento em 20 anos" em 1994, quando o plano foi executado, no governo do então presidente Itamar Franco. FHC fora ministro da Fazenda.

De certa forma, o programa do PSDB também é um resgate do governo Fernando Henrique Cardoso, que passou ao largo da campanha de Geraldo Alckmin a presidente, em 2006, assim como já passara na campanha do atual governador de São Paulo, José Serra, em 2002 - as duas candidaturas derrotadas, sucessivamente, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Prova disso é o mote do programa: "O PSDB que cumpriu sempre compromissos com você, pode assumir novos compromissos com o Brasil de amanhã".

Entre os compromissos cumpridos estão a estabilidade da economia, feitos por "FHC e o PSDB no governo", os programas sociais de Fernando Henrique e as privatizações realizadas no governo tucano. Menciona o Bolsa Escola e o Vale Gás "entre vários outros programas que hoje estão com um novo nome, o Bolsa Família", e as "privatizações" são citadas como exemplos de "modernização" por terem acabado com "empresas públicas que em alguns casos eram cabides de emprego" e permitir que o país hoje tenha mais de 100 milhões de telefones, bem ao alcance de 10% da população na época de FHC. O celular é chamado de "o telefone do trabalhador".

A referência aos programas assistenciais de FHC foi vetada na campanha de Alckmin, ano passado, porque os marqueteiros diziam que esse era "um campo de Lula", impenetrável aos tucanos. O PSDB fugiu do tema das privatizações quando o PT acusou o partido de querer vender o Banco do Brasil e a Petrobras. Hoje, dirigentes tucanos reconhecem que trataram do tema de maneira "envergonhada" e não souberam fazer um link entre a privatização e a modernização.

O novo tom do PSDB faz parte do esforço do partido no sentido de criar um discurso consistente para as eleições de 2008 e 2010, na sucessão de Lula, ao contrário do que ocorreu nas duas últimas eleições, quando, além das divisões entre facções internas, o PSDB se apresentou dividido também em relação ao conteúdo programático. O 3º seminário dos tucanos está em curso e deve se encerrar no último trimestre, com a eleição de um novo comando partidário.

O programa nacional do PSDB, com apenas quatro minutos, foi mais curto em virtude de uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que tirou seis minutos do partido como punição em virtude de os tucanos terem utilizado o programa do primeiro semestre do ano passado para promover a então pré-candidatura de Geraldo Alckmin a presidente, fora do horário eleitoral. O TSE também cortou o espaço dos comerciais do PSDB, que irão ao ar num único dia, no fim deste mês, em vez dos quatro previstos pela legislação.