Título: Indústria do Nordeste puxa alta do emprego
Autor: Salgado, Raquel e Mandl, Carolina
Fonte: Valor Econômico, 13/07/2007, Brasil, p. A3

As regiões Norte e Nordeste, que concentram indústrias que fornecem para o interno e são intensivas e mão-de-obra, estão puxando o crescimento do emprego na indústria. De janeiro a maio deste ano, o emprego industrial cresceu 1,5% na média do país, mas nestas duas regiões ele foi mais expressivo e aumentou 2,6% e 2,4%, respectivamente.

Como o Norte e o Nordeste concentram atividades industriais intensivas em mão-de-obra, como a fabricação de alimentos e bebidas e de produtos químicos, o ritmo de contratações supera o da produção. Já nos Estados do Sul e Sudeste, o cenário é oposto. O aumento da produção está apoiado no ramo de veículos e máquinas, setores que empregam menos. Na média do Brasil, a produção aumentou 4,4% até maio, enquanto no Nordeste a alta foi de 1,9%.

Esse padrão de crescimento do Nordeste - emprego mais forte e produção mais fraca em relação à média do país - difere do observado no mesmo período do ano passado, quando a produção crescia de forma vigorosa, mas o emprego estava em declínio.

A situação se inverteu em 2007 e o desempenho é explicado pela indústria de alimentos e bebidas que, sozinha, contribuiu com 1,71 ponto percentual no crescimento de 2,4% do Nordeste. Em termos percentuais, ela já elevou em 5,9% seu nível de ocupação neste ano. Outra ajuda veio coque, refino de petróleo e álcool, que expandiu em 36,8% seu quadro de pessoal, respondendo por 0,91 ponto da taxa total da indústria. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"O consumo dessa região cresce muito nas faixas de renda mais baixas, o que beneficia os produtores locais", explica Rogério Boueri, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e professor da Universidade Católica de Brasília. Isso porque o ganho de renda vai diretamente para a compra de alimentos.

Este é o segmento com maior representatividade dentro da indústria do Nordeste, respondendo por 24,1% da produção total. Em seguida estão os produtos químicos, com 21%, e o refino de petróleo e produção de álcool, com 12,8%.

A Norsa, fabricante de Coca Cola com unidades no Ceará, Piauí, Bahia e Rio Grande do Norte, sente os efeitos da renda maior. As vendas subiram 13% no primeiro semestre. Foram feitas 120 contratações de janeiro a junho - ao todo, são 3.100 funcionários. "O poder aquisitivo está favorável para o aumento do consumo", diz Sidney Leite, diretor-industrial da empresa. O lançamento de produtos também ajudou e exigiu novas contratações. O quadro de funcionários deve ser ampliado novamente no segundo semestre.

O consumo nessa região continua a ser impulsionado pela transferência de renda, que chega tanto pelo Bolsa Família quanto pelo salário mínimo, que também reajusta as aposentadorias.

"Nós percebemos nitidamente o aumento do consumo em dias de recebimento do Bolsa Família. O fluxo de negócios tem aumentado na periferia", diz Carlos Sousa, presidente da fabricante de óculos baiana Master Glasses. A empresa está em expansão. Em maio, começou as obras de ampliação para praticamente dobrar o tamanho de sua fábrica, localizada em Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador. No primeiro semestre, o número de funcionários passou de 320 para 415 e pode chegar a 600 até o fim das obras.

Em Pernambuco, mais um cenário animador. Só neste ano, o complexo industrial portuário de Suape aprovou a vinda de 14 empreendimentos. Juntos, vão gerar 1.600 empregos diretos. Alguns deles já entraram em operação. É o caso da fábrica de guloseimas e biscoitos Arcor, que contratou cerca de 400 funcionários para produzir chicletes e pirulitos. A instalação da fábrica em Pernambuco foi motivada pelo crescimento da demanda no Nordeste.

"Daqui para a frente, o impacto de novas indústrias no Estado será mais importante para a geração de vagas do que as ampliações de fábricas já existentes", afirma Jorge Corte Real, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco.

Nos primeiros seis meses deste ano, a indústria paraibana de alimentos São Braz aumentou o quadro de funcionários em 5%. E analisa abrir novas vagas até o fim do ano. Segundo Frederico Dominguez, gerente de marketing, as vendas neste período subiram 25% na comparação com o mesmo período do ano passado.

"O consumo no Nordeste vem subindo não só por causa dos programas de distribuição de renda do governo. O próprio crescimento do emprego tem levando as pessoas a comprarem mais", diz Dominguez. Nos últimos dois anos, a São Braz contratou 250 pessoas. Avaliação semelhante é feita por Boueri, do Ipea. Para ele, a transferência de renda já foi capaz de impulsionar a economia a ponto de gerar novos postos de trabalho.

Mesmo sem tanta ajuda dessas transferências, a indústria do Norte e do Centro-Oeste segue ritmo parecido ao da nordestina. Pelos dados do IBGE, que só são divulgados de forma agregada, o emprego nas duas regiões acumula alta de 2,6% entre janeiro e maio, na comparação com igual período do ano passado. "Esse indicador é impulsionado pelo agronegócio e pelo setor que produz motocicletas", explica Sílvio Salles, coordenador da pesquisa industrial do IBGE. O Amazonas, no entanto, mostra os efeitos negativos da valorização cambial. Sua produção já acumula queda de 1,2% no ano.

Apesar de números mais tímidos no emprego, as indústrias das regiões Sul e Sudeste também têm bons resultados. A primeira é impulsionada pela recuperação da agricultura. Essa melhora tem trazido reflexos para os ramos de máquinas e equipamentos e de veículos automotores. São estes setores que também dinamizam a indústria do Sudeste, impactada pelo forte aumento do investimento e pela expansão do crédito.