Título: Base governista rebela-se contra manobra de Renan
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 13/07/2007, Política, p. A8

Manobra do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), adiando a conclusão da perícia da Polícia Federal nos documentos apresentados por ele ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, acirrou o confronto com a oposição e provocou rebelião de setores da base governista. Até aliados estratégicos de Renan no processo por quebra de decoro - como a líder do PT, Ideli Salvatti (SC) - protestaram contra a decisão. PSDB e DEM abandonaram o plenário e ameaçam paralisar as atividades legislativas.

A Mesa Diretora se reuniria ontem para deliberar sobre itens listados pelos relatores do processo contra Renan para que o Instituto Nacional de Criminalística da PF aprofunde a perícia nos documentos. Ele é acusado de fazer pagamentos pessoais com recursos da empreiteira Mendes Júnior ou de um lobista da empresa. Com os documentos, Renan tentou provar que tinha recursos para arcar com as despesas.

Numa perícia inicial, a PF apontou inconsistências na documentação. Os relatores elaboraram 30 perguntas para a PF responder, com base nos documentos apresentados por Renan registrando supostas vendas de gado. As perguntas dos senadores Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS) - o terceiro relator da comissão, Almeida Lima (PMDB-SE), discordou, por considerar que a PF só pode investigar parlamentar com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF). Os quesitos listados mostram disposição de investigar se as operações citadas por Renan foram efetivamente realizadas e se a evolução patrimonial de Renan de 2002 a 2006 é compatível com a renda declarada.

Na quarta-feira, a oposição concordou em votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias mediante compromisso de integrantes da Mesa de que o colegiado se reuniria ontem para encaminhar os pedidos dos relatores à PF. Tucanos e democratas foram surpreendidos pela decisão de Renan, anunciada por Tião Viana (PT-AC), que presidia a sessão, marcando a reunião para terça-feira, véspera do início do recesso legislativo.

Foi o estopim para nova saraivada de críticas a Renan, que não apareceu no plenário. Até a líder do PT, que teve atuação importante na defesa dele, lamentou o adiamento. "Nesta Casa há um nível de tensão e de acirramento que estão se tornando insustentáveis." Segundo ela, a investigação "é absolutamente necessária, pois está sendo clamada pelas ruas". Senadores da base, que não haviam se manifestado antes nesse assunto, como Patrícia Saboya (PSB-CE), criticaram Renan. "Ele tem agido de forma intransigente e tem prejudicado a si próprio", disse. "Se ele tem o respeito que diz ter ao Senado, a melhor forma de demonstrar é manter-se completamente isento de um processo que está sendo feito contra o próprio presidente desta Casa", afirmou.

Para Valter Pereira (PMDB-MS), "a presença de Renan na condução desse processo está conspirando" contra ele. "No que diz respeito à condução desse processo, sem querer prejulgar ninguém e sem querer marginalizar ninguém, acho que a Mesa deveria ter o comando do Vice-Presidente, Tião Viana", disse.

O presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), afirmou que o adiamento da reunião mostra que há "clara e deliberada intenção de se postergarem os investigações". Reafirmou que Renan não tem condições de continuar presidindo a Casa. O líder do DEM, José Agripino (RN), disse que a Presidência do Senado "está armando alguma chicana jurídica para procrastinar o processo de levantamento de provas".

Almeida Lima, em defesa de Renan, acusou a oposição e senadores que estão contra ele de tentarem "atropelar tudo, praticando um ato ilegal, arbitrário e abusivo". Sugeriu que acendessem uma fogueira ou construíssem uma forca para queimar ou enforcar Renan. Renato Casagrande rebateu, dizendo que a PF só precisa de autorização do STF em caso de investigação criminal. "Esse tipo de comportamento acaba fazendo com que a gasolina seja jogada na sua roupa. Daqui a pouco, o corpo pega fogo por si só, sem ninguém atear fogo nele", disse.

Os líderes do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA), argumentaram que Renan nem teve tempo de examinar a lista de quesitos à PF, que poderiam envolver a quebra de sigilos. Em nota, Renan disse que não teve tempo de notificar as partes (os advogados dele e do PSOL, autor da representação contra ele).