Título: Dólar vai a R$ 1,873 e pode cair mais
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 13/07/2007, Finanças, p. C1

A queda de 1% no dólar ontem, para R$ 1,873, seu menor valor desde 17 de outubro de 2000, não pôs um fim à tendência de desvalorização da moeda americana, na opinião de integrantes do mercado financeiro ouvidos pelo Valor. Pelo menos no curto prazo, o real deve continuar a se apreciar em relação ao dólar por causa do forte fluxo de recursos externos ao país, depois do recorde de US$ 16,5 bilhões líquidos em junho, argumentam eles.

No ano, o dólar já caiu 12,34% e em 12 meses, 14,90%. Nuno Câmara, economista do banco alemão Dresdner, acredita que o movimento não parou por aí. Para ele, a moeda americana deverá fechar julho em torno de R$ 1,80, para depois chegar a R$ 1,82 no final de agosto. O banco holandês ING estima que o dólar vá a R$ 1,75 no final do ano. Alexandre Ferreira, vice-presidente do alemão WestLB na área de câmbio, também aposta que o dólar continua abaixo de R$ 1,90 no curto prazo.

A Bolsa de Valores de São Paulo deve continuar a atrair o investidor externo. As operações de emissões públicas iniciais de ações (IPOs) devem ultrapassar US$ 5 bilhões nos próximos 60 dias. Como cerca de 70% do fluxo de novas ações é adquirido por estrangeiros, os ingressos podem chegar a US$ 3,5 bilhões só para este fim. Ontem foi a vez da Redecard, que levantou R$ 4 bilhões no maior IPO da história do país.

Os investidores externos parecem dispostos a continuar a se financiar em moedas dos países ricos, de juros baixos, com destaque para o iene, e investir em moedas como o real, de juros elevados, e ganhar a diferença nas taxas de juros mais a apreciação cambial. Essa estratégia, conhecida como "carry trade", foi apontada pelo Barclays Capital em relatório divulgado ontem como a mais indicada para os investidores em mercados emergentes neste terceiro trimestre do ano.

Entre as moedas latino-americanas, os analistas do Barclays estão mais otimistas justamente com o real. "Tanto a melhoria na percepção de risco de crédito do país quanto o fato de o fortalecimento do real não estar estar prejudicando o desempenho da balança comercial implicam mais valorização", diz o Barclays.

A perspectiva de o país se tornar grau de investimento - obter o selo de investimento não-especulativo - em 2008 estimula os investidores a comprar ativos no país agora, esperando novas valorizações. Somente em maio, os investidores externos compraram US$ 2 bilhões em títulos públicos no mercado interno. "Eu acho que o grau de investimento deve chegar ainda neste ano, atraindo mais recursos externos", diz Câmara.

O analista do Dresdner também está mais otimista do que que o mercado no que diz respeito aos ingressos dos recursos dos exportadores no país. Aposta em um número de US$ 46 bilhões de superávit comercial neste ano, em relação aos US$ 42,6 bilhões previstos na pesquisa feita pelo Banco Central entre os bancos divulgada no boletim "Focus". Mas, qualquer que seja o número, os analistas são unânimes em destacar que o saldo da balança comercial tem surpreendido para cima mês a mês.

A crise no mercado de hipotecas residenciais de maior risco nos Estados Unidos não está impactando de forma determinante o mercado de câmbio brasileiro, o que traz mais tranqüilidade aos investidores. Além disso, as medidas do Banco Central, reduzindo limites de exposição cambial dos bancos e aumentando a necessidade de capital, tomadas em junho, também não mudaram o rumo do câmbio.

"O governo deixou claro que não vai intervir de maneira heterodoxa", comenta Ferreira. Ele lembra ainda que o dólar mais baixo ajuda a segurar a inflação e que em junho o Banco Central deve ter comprado apenas metade do fluxo recorde de US$ 16,5 bilhões no mercado à vista, além de não ter feito compras líquidas no mercado futuro. A autoridade monetária tem apenas rolado o estoque de "swaps cambiais reversos", apesar de posições vendidas líquidas em dólar (dólar futuro e DDI) dos investidores estrangeiros de US$ 9,8 bilhões na Bolsa de Mercadorias & Futuros. Ontem, teria comprado US$ 850 milhões à vista.