Título: Microcrédito só atende a 12% da demanda, diz Itaú
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 13/07/2007, Finanças, p. C3

Um dos mercados com grande potencial de crescimento, mas ainda desconhecido dos grandes bancos, está na baixa renda. Estudo do Itaú em parceria com o Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS) revela que os 438 mil clientes já atendidos com microcrédito pela amostra da pesquisa representam cerca de 12% da demanda potencial, que seria de 3,5 milhões de pequenos empreendimentos.

De acordo com o vice-presidente do Itaú e da Fundação Itaú Social, Antonio Matias, esse é um mercado que interessa, mas são muitos fatores que podem explicar por que, apesar desse enorme potencial, não há filas de consumidores na porta das instituições pedindo microcrédito. Ele destaca as questões culturais que relacionam empréstimo a uma emergência; a concorrência com outros fonte de recursos, como as lojas, empréstimos familiares e os fornecedores; além do baixo investimento em divulgação.

O levantamento feito pelo banco é resultado da análise do perfil de 39 das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, conhecidas como OSCIPs. Essas entidades são as responsáveis por fazer a ponte entre o mercado de baixa renda e o sistema financeiro, repassando recursos do BNDES, Badesc, União Européia e até de prefeituras.

Para o diretor do IETS, Manuel Thedim, o setor não avançou como era esperado devido à baixa capacidade das entidades crescerem. Ainda assim, elas elevaram o volume de empréstimos em cerca de 35% nos anos pesquisados, mostrando que esse mercado pode se desenvolver bastante. Por outro lado, o valor médio dos empréstimos teve aumento nominal de 2,5% ao ano, o que representa queda real independentemente do deflator a ser utilizado. O valor médio dos empréstimos é de R$ 1,64 mil.

Os próprios bancos muitas vezes repassam recursos para as OSCIPs. Isso porque desde 2003 as instituições financeiras são obrigadas a destinada 2% do saldo dos depósitos para esse segmento. Como não têm a expertise, repassam o montante para essas entidades. Segundo dados do Banco Central, em abril deste ano o saldo de concessões de microcrédito estava em R$ 1,1 bilhão, sendo R$ 260 milhões para microempreendimentos e o restante para pessoas físicas.

No Brasil, existem 207 OSCIPs registradas no Ministério da Justiça como operadoras de microcrédito, sendo o principal canal para acesso ao crédito para famílias com baixa renda. Segundo o estudo, esta operação é realizada por meio de um agente que faz a análise socioeconômica do cliente, visita o local do microempreendimento e oferece o crédito em condições adequadas às necessidades observadas.

Uma das conclusões do estudo é de que o crescimento de uma OSCIP de microcrédito está vinculado ao atendimento a clientes menos estruturados, já que quanto maior o número de créditos ativos, menor é o valor médio dos empréstimos. Outro dado relevante é que as instituições com mais de 10 anos são as que cobram mais juros. "Isso vai contra a hipótese de que relações de clientela implicam em redução dos juros", diz o diretor do IETS.

Com relação a inadimplência, o índice de atraso há mais de 30 dias está em média na casa dos 4,5%, com taxa de perda de 4% do valor da carteira.