Título: Prestígio em baixa
Autor: Monteiro, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 13/07/2007, EU & Investimentos, p. D1

Os juros menores estão afastando os investidores não apenas de fundos mais conservadores, como os DI, mas também dos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). Levantamento do Valor Data com base nos dados do Banco Central (BC) mostra que a captação de CDBs no primeiro semestre deste ano somou R$ 16,831 bilhões, pouco mais da metade dos R$ 31,176 bilhões aplicados nesses papéis no mesmo período do ano passado.

Alguns fatores contribuíram para essa aplicação menor em CDBs no semestre. O primeiro está na menor atratividade desses títulos ante a caderneta de poupança para os investidores com menos recursos. Muitos bancos também estão com um esforço menor de venda de CDBs, privilegiando a caderneta diante do aquecimento do crédito imobiliário, e parte do dinheiro da poupança é destinado ao financiamento habitacional. O terceiro fator, dizem os especialistas, está na saída dos investidores de fundos DI, que além de títulos públicos também podem aplicar parte da carteira em CDBs. Os investidores institucionais também estão buscando outras formas de investimento mais rentáveis.

No caso do investidor com menos recursos, com a taxa de juro em 12% ao ano e em queda, muitos estão fazendo as contas e migrando para a boa e velha caderneta de poupança. O cliente com poucos recursos, por exemplo, procura um banco e, para um prazo de 30 dias, consegue um CDB que paga 0,85% ao mês. O problema é que, na hora de resgatar, terá de pagar 22,5% de imposto de renda, o que reduz o ganho para 0,70%. "O retorno é mais ou menos o mesmo da caderneta de poupança, que não paga IR", lembra Aury Ermel, diretor financeiro do BicBanco. "Sem falar que muitos bancos devolvem a CPMF", lembra. Os dados do BC mostram que a caderneta de poupança registrou captação recorde no semestre, de R$ 8,77 bilhões, a maior desde 1995.

Contribui ainda para a menor atratividade dos CDBs a migração de muitos investidores dos tradicionais fundos DI para multimercados. Pelas regras, os fundos DI podem ter 80% aplicados em títulos públicos e os outros 20% em outros papéis atrelados ao CDI. Nesses 20%, no entanto, há um limite de concentração por instituição emissora. Quando o aplicador faz um resgate, os gestores têm balancear as carteiras. Isso faz com que muitos fundos estejam comprando menos CDBs para não ter de vendê-los toda vez que algum cotista faz um resgate. Dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) mostram que os DIs apresentam saques de R$ 12,886 bilhões, enquanto os multimercados captam R$ 13,711 bilhões no ano, até o dia 9.

Os grandes bancos seguem com uma liquidez gigantesca, com bilhões aplicados em papéis públicos e podem, assim, reduzir a captação de CDBs sem impacto em suas carteiras de crédito, diz Joaquim Elói Cirne de Toledo, diretor de Gestão de Recursos de Terceiros do Banco Nossa Caixa. Já os bancos médios e pequenos têm hoje outras opções de captação, como fundos de recebíveis (FIDCs) e acordos de cessão de carteiras. "E os pequenos bancos, quando captam CDBs, precisam aplicar o compulsório do papel em títulos públicos que rendem a Selic, mas eles mesmos pagam mais que a Selic para o investidor, por isso preferem outras formas de captação", explica.

Mesmo os investidores institucionais, tradicionais compradores de CDBs, estão aplicando também em papéis de maior risco para obter retornos diferenciados, conta Paulo Augusto Saba, tesoureiro do Banco Espirito Santo Investment. "Com o CDB pagando um taxa baixa, os institucionais estão preferindo outros papéis com estruturas de crédito não triviais, como CCBs e debêntures", diz o executivo.

Destoa dessa menor demanda o Santander, onde o número de clientes com renda mensal de até R$ 4 mil que investem em CDBs aumentou de 15 mil para 24 mil em um ano. A estratégia foi reduzir a aplicação mínima de R$ 1 mil para R$ 500, e dar liquidez diária aos investidores. "Queríamos mostrar para o investidor que historicamente aplica na caderneta que há um outro produto e com liquidez diária", diz Marcus Matos, superintendente adjunto de produtos de captação do Banco Santander. A taxa varia de acordo com o volume de aplicações que o cliente tem no banco. Segundo Matos, o ganho fica muito próximo ao da poupança. (Colaborou Angelo Pavini)