Título: Para empresários, garantia de compra estatal é fundamental
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Fonte: Valor Econômico, 10/07/2007, Brasil, p. A4

Empresários do setor de fármacos esperam que, em breve, o governo comece a usar o poder de compra do Estado para ampliar a demanda por medicamentos no país. Eles consideram fundamental ter garantia de compra para fortalecer a empresa nacional e fazê-la avançar no mercado doméstico e global, o que já ocorre em outros países.

Ogari Pacheco, da Cristália, critica a forma como são feitas atualmente as concorrências públicas, sem levar em conta o custo-Brasil, que representa 33% sobre o preço do produto, enquanto as multinacionais só têm uma alta de 2% no custo, por conta de seguro e frete.

A empresa de Pacheco, que tem 100% de capital nacional, é a única no país a produzir o medicamento ritonavir para aids. Recentemente, a empresa perdeu para uma multinacional uma concorrência feita pelo Ministério da Saúde para fornecimento do princípio ativo. Para ele, a iniciativa do BNDES só dará certo "se o exercício deste poder de compra for efetivo, com o Estado dando um tratamento diferenciado para a indústria localmente, sem subsídio às avessas. Só assim o jogo é limpo", diz.

Pacheco informou que perdeu a concorrência porque "trouxeram a matriz para competir conosco e baixaram o preço para um nível que se pratica em país africano, para fins humanitários". A Cristália fornecia o ritonavir para o governo há quatro anos. Agora, busca mercado para exportar o produto. "Através da inovação, temos patentes registradas nos EUA, Europa e China", diz Pacheco.

A Cristália, que é líder do mercado latino-americano de anestésicos e tem quatro fábricas - três em Itapira e uma em São Paulo - investe 7% do lucro em pesquisa e desenvolvimento e reinveste 90% na própria empresa. No momento, Pacheco estuda a compra de empresas no mercado doméstico e examina a abertura de uma filial na Argentina.

Alberto Mansur, da Nortec, que produz matéria-prima para o Dorflex e a Neosaldina, se diz estimulado a investir pelo apoio ao setor sinalizado pelo BNDES. A empresa aplica 8% da receita na pesquisa e desenvolvimento de produtos.

Este ano, a Nortec está voltada para desenvolver produtos cujas patentes no mundo estão vencendo entre 2007 e 2008, como a fosfenitoina, princípio ativo usado para fabricação de remédios para epilepsia pediátrica. Um outro produto, a quetiapina, com patente vencendo em 2008, será fabricada numa joint-venture com a americana Cambrex. Também pesquisa com Farmanguinhos e a Unicamp um redutor para colesterol.

Dante Alario Jr., da Biolab, acha "ótimo" o uso do poder de compra do governo para estimular o setor. "Isso já existe em outros países e aqui o assunto ainda está em discussão.". Ele disse que participa de licitações há muito tempo, mas nunca entrou numa licitação pública. Criticou o que chamou de "licitações predatórias" , nas quais concorre com empresas indianas, onde predomina o preço político. Alario Jr. contou que a Biolab estuda montar uma fábrica nos EUA e avalia uma aquisição ou parceria na Argentina. A Biolab tem liderança no Brasil de produtos cardiológicos e ocupa 14% do mercado de produtos ginecológicos. No mercado doméstico, estuda operações de aquisições de duas médias empresas. "Nossa meta é juntarmos forças para nos tornarmos um grupo maior". A Biolab tem 12 projetos de inovação para serem financiados pelo BNDES.

A Genoa considera "importantíssima" a política de apoio do banco. "Para uma empresa como a nossa, que está começando e investindo muito em inovação, os recursos próprios são limitados", disse Luiz Fernando Camara Lopes, diretor de marketing da empresa. (VSD)