Título: Decisão surpreende ambientalistas
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 10/07/2007, Brasil, p. A7

No mesmo dia em que servidores do Ibama penduraram uma faixa no Cristo Redentor, no Rio, mostrando que o instituto segue em greve, o governo dava sinal verde para as usinas do rio Madeira, em Rondônia. Com ou sem paralisação dos funcionários do órgão licenciador, as hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau receberam a licença-prévia, uma decisão que surpreendeu tanto os executivos do Consórcio Furnas-Odebrecht como os ambientalistas.

"Estamos muito felizes por ter sido coroado de êxito este esforço de vários anos", comemorava Irineu Meireles, diretor da Odebrecht Investimentos em Infra-Estrutura, agora candidata ao leilão de energia das usinas. "Era perfeitamente possível encontrar o ponto de equilíbrio entre a necessidade de crescimento econômico do país com os cuidados ambientais necessários em um empreendimento desta magnitude. " Sérgio Leão, diretor de meio ambiente da Odebrecht, diz que tomou conhecimento das 33 condicionantes com que o projeto recebeu a licença-prévia, de forma "ainda muito superficial", mas que ali, não ocorreram surpresas. "São os temas que foram aprofundados, como mercúrio, sedimentos e peixes, e que exigiram estudos adicionais."

Ambientalistas que resistiram ao projeto desde o início - também surpresos com o anúncio do governo - prometem continuar erguendo barricadas. "É uma liberação com bases políticas e não técnicas, com impactos inaceitáveis numa região de megabiodiversidade da Amazônia", diz Glenn Switkes, coordenador para a América Latina da International Rivers Network, ONG que trabalha com projetos de hidrelétricas em várias partes do mundo. "É uma indicação que a licença ambiental virou parte da máquina do governo e não é mais um processo analítico, imparcial e objetivo", prossegue. Ele não vê alento nas condicionantes para que a obra vá em frente: "As empresas nunca cumprem", diz, cético. "Não vamos parar de tentar sensibilizar o público e os investidores potenciais de que será um grande erro colocar dinheiro em uma obra tão controversa."

Em Porto Velho, coordenadores da campanha "Viva o Rio Madeira Vivo", que reúne uma dúzia de entidades ambientalistas e sociais contrárias à obra, depois do susto começavam a planejar novas ações. "Tinha a concepção de que não sairia esta licença", disse o físico Artur Moret, professor da Universidade Federal de Rondônia. "Como o Ibama dá uma licença, se quem acompanha o processo está em greve?"