Título: Cinco consórcios já se mobilizam e governo admite participação de Furnas
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 10/07/2007, Brasil, p. A7

Pelo menos cinco consórcios ou sociedades de propósito específico (SPEs) estão sendo montados para disputar a construção das usinas do rio Madeira. Eles reúnem construtoras, empresas de energia e fornecedores de equipamentos. Um deles é formado pela Odebrecht e pela estatal Furnas, cuja participação voltou a ser admitida pelo governo. A construtora Camargo Corrêa se movimenta, bem como a Suez Energy, multinacional francesa que controla a Tractebel, maior geradora privada de energia do país, com produção de 6 mil megawatts (MW). O quarto consórcio reúne a Alusa, a argentina Impsa Hydro, a Schahin e a chinesa CTIC. Um quinto está sendo cogitado pela Light.

A Suez Energy confirmou ontem ao governo a intenção de liderar um grupo. A manifestação foi feita, pessoalmente, pelo presidente da empresa no Brasil, Maurício Bahr, que se reuniu com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, em Brasília.

A Odebrecht ainda espera um recuo do governo para entrar no leilão com a estatal Furnas. Mas já tem compromissos para entrar na disputa junto com Alstom, Voith-Siemens e VA Tech - todas fabricantes de equipamentos.

Outro consórcio que já declarou interesse é formado pela Alusa, a argentina Impsa Hydro, a Schahin e a chinesa CTIC. Originalmente, a construtora Gautama fazia parte desse grupo de investidores, mas sua participação tornou-se constrangedora aos demais parceiros, depois do escândalo da Operação Navalha.

E ontem o presidente da Light, José Luiz Alquéres, antecipou ao Valor que estuda um consórcio formado apenas por distribuidoras de energia. Segundo ele, o ideal seria um consórcio reunindo as distribuidoras do Sudeste. "Ainda não fiz contato com ninguém mas dentre os parceiros ideais estão a Cemig (uma das controladoras da Light), a CPFL, Eletropaulo, e a Bandeirantes. Seria o consórcio ideal. Faríamos depois uma concorrência para escolher as construtoras e os fornecedores de equipamentos", disse Alquéres.

A Camargo Corrêa também anunciou publicamente sua disposição de entrar na concorrência e liderar outras empresas interessadas. Nesse cenário, os fiéis da balança podem ser grandes companhias, que querem um terço de participação nas usinas do Madeira para a geração própria de energia - ou seja, usar para si a eletricidade produzida - e podem aliar-se a um dos consórcios. Uma das empresas dispostas a entrar na disputa, segundo apurou o Valor, é a Companhia Vale do Rio Doce.

A própria Cemig está analisando a possibilidade de aderir ao consórcio vencedor após o leilão. A Camargo Corrêa já criou uma empresa, a Amazônia Madeira Energia Ltda. (Amel) e pode ter como sócia sua controlada, a CPFL. A Shahin e Alusa formaram com a argentina Impsa o Consórcio Energético Rio Madeira (Cermad), que tem ainda a construtora italiana Astaldi.

"A partir desta licença, acaba a nossa responsabilidade enquanto empreendedores do EIA-Rima", diz Irineu Meireles, diretor da Odebrecht Investimentos em Infra-Estrutura. "Agora, o governo assume e nós somos candidatos ao leilão", continua.

Meireles diz que "até o momento", a empresa continua com Furnas" e que "não receberam nenhum comunicado oficial do governo" que a Odebrecht não poderia se candidatar ao leilão junto com a estatal Furnas, sua parceira até agora. "Nosso termo de compromisso com Furnas inclui participar do leilão de outorga", diz ele. Nos estudos, o consórcio investiu R$ 150 milhões. (Colaborou Daniela Chiaretti, de São Paulo)