Título: Impacto de biocombustíveis ainda será pequeno
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Fonte: Valor Econômico, 10/07/2007, Internacionall, p. A11

A produção mundial de biocombustíveis - etanol e biodiesel - deve dobrar nos próximos cinco anos, com destaque para o Brasil devido à "rara vantagem competitiva em termos de custo de produção, agricultura e infra-estrutura".

É o que aponta um relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), que no entanto levanta dúvidas sobre a viabilidade econômica da produção desses combustíveis em "certas regiões", incluindo os EUA, no médio prazo.

A AIE estima que a produção global pode dobrar para o equivalente em petróleo a 1,8 milhão de barris por dia até 2012 - uma previsão bem "cautelosa" e bem abaixo do potencial de capacidade de produção de 2,9 milhões de barris previsto até aquela data.

No Brasil, a produção deve crescer mais rapidamente que em outros países, de 316 mil barris por dia em 2007 para 528 mil barris em 2012 (ver tabela), chegando assim a um terço do total mundial.

A agência aponta várias razões para precaução no médio prazo. Primeiro, a pressão sobre os preços de commodities como milho, açúcar, soja, trigo e óleo de palma reforça sua "preocupação" sobre a viabilidade econômica da produção de etanol e biodiesel em certas regiões, devido à concorrência entre a primeira geração de biocombustível e a cadeia alimentar.

Além disso, embora estime que o apoio político para os biocombustíveis aumentará, a AIE vê falta de engajamento de longo prazo e a possibilidade de que vários países deixem de manter subsídios para forçar os refinadores a misturar o biocombustível em seus produtos finais, e para investir na expansão de infra-estrutura e capacidade de refino.

Mesmo admitindo que os subsídios atuais serão mantidos, por exemplo nos EUA, a agência vê incertezas em ganhos para produzir etanol e biodiesel. A margem de lucro do etanol (baseado nos contratos futuros do produto na Bolsa de Chicago e tambem do milho) já caiu fortemente, de US$ 3,50 por galão no pico de junho de 2006 para cerca de US$ 0,57 recentemente, e a queda pode continuar nos próximos dois anos.

A agência nota que os EUA já enfrentam um excesso de etanol, refletido na queda de preço, por causa de produção superior a infra-estrutura e falta de incentivo para misturá-lo com a gasolina. Também chama atenção para projetos que foram cancelados, enquanto outros teriam baixa taxa de utilização por causa de condições não lucrativas. A situação ocorre também na Alemanha, onde o governo recuou na isenção de imposto na venda de biocombustível, tornando a produção não lucrativa.

A agência nota que, no momento, os preços das commodities continuam sendo mais favoráveis para sua utilização alimentos do que como combustível, e na medida que essa tendência se inverter o impacto sobre o preço da terra aumentará.

Em todo caso, a AIE prevê aumento de 50% no fornecimento de biocombustível para transporte entre 2007-2012, num ritmo mais acelerado nos EUA. O país pode alcançar sua meta de utilização de biocombustíveis já em 2012, três anos antes do previsto.

Ainda assim, os biocombustíveis continuarão marginais no suprimento global de petróleo, com 2% do total. O etanol (cerca de 78% de todo o biocombustível) e o biodiesel deverão substituir juntos 1,1 milhão de toneladas da demanda de petróleo em 2007, subindo para 1,8 milhão em 2012. O etanol deve substituir 27% do aumento de demanda por gasolina. Apesar da rápida expansão, o consumo de etanol representará só 6% da demanda mundial de gasolina, e o biodiesel ainda menos, 1%, concentrado nos países desenvolvidos (52% para etanol e 71% para biodiesel).

Enquanto nos EUA a produção já cresceu mais que o previsto, a Europa produz metade do biodisel mundial, e a produção de etanol também cresce rápido para alcançar 171 mil barris por dia em 2009. Já as dúvidas crescem em relação à concretização de todos os projetos anunciados na Ásia. A China temperou seu entusiasmo, diante da preocupação com a concorrência de etanol com alimentos e água.

Sobre a competição entre etanol e alimentos, a agência nota que 20% da terra arável nos EUA precisará ser alocada para colheitas usadas em biocombustível, para que alcance a fatia de 5,75% no combustível de transporte rodoviário no país até 2010.

A AIE estima que somente a partir de 2012 é que haverá produção de etanol de segunda geração, que necessita de enormes investimentos. (AM)