Título: Metas ambientais devem afetar setor aéreo
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 10/07/2007, Empresas, p. B6

A aviação civil deve passar por uma tempestade em breve, com a aplicação do princípio de que o poluidor deve pagar pelos estragos ao meio ambiente. Analistas na Europa avaliam que isso vai fazer explodir o preços das viagens aéreas, sobretudo as das chamadas companhias de "baixo custo".

A porta-voz de meio-ambiente da União Européia (UE), Barbara Helfferich, informa que Bruxelas quer colocar em vigor até 2010 seu sistema que tornará obrigatório às companhias aéreas comprarem cotas de emissão de gases de efeito estufa, a exemplo do que já existe para os setores industriais mais poluidores.

"O objetivo é o de cobrir todas as companhias aéreas que partem ou aterrissam na Europa", avisou a porta-voz. Até agora, a aviação civil não paga pela poluição que provoca, estimada em mais de 550 milhões de toneladas de gases de efeito estufa. Isso representa 2% das emissões de CO² globalmente, equivalente às emissões da Grã-Bretanha. Ocorre que a aviação é também o setor cujas emissões aumentam mais rapidamente, com a explosão inclusive dos vôos de baixo custo. Para pagar pelas cotas de emissões, as companhias vão querer repassar o custo aos passageiros. A porta-voz européia diz que estudos de Bruxelas mostram que as companhias aéreas não precisarão disso. Mas que, se o repasse for feito, o custo adicional para um vôo entre Bruxelas e Nova York seria de apenas 9 euros.

Mas outros analistas estimam que seja bem mais caro o "crash verde da aviação", como classificou o jornal "Le Temps", de Genebra. O custo adicional pode variar de 10% a 30% em relação ao preço da passagem.

Significa que o modelo econômico dos vôos de baixo custo está ameaçado com as taxas de emissões de CO² e tem tudo para agradar os ambientalistas. Na Grã-Bretanha, um ministro do governo de Tony Blair identificou publicamente a companhia aérea irlandesa Ryanair como exemplo da "face irresponsável do capitalismo", porque seu proprietário se recusava a admitir que o setor de aviação acelera maciçamente o aquecimento climático.

A proposta da UE está no Parlamento Europeu. Enquanto isso, alguns países procuram adotar medidas individualmente, como a própria Grã-Bretanha, com taxas sobre vôos internos. Entidades como o Fórum Econômico Mundial procuram aproveitar para lançar jogadas de marketing, "encorajando" cada participante a compensar a emissão de carbono provocada por sua viagem, pagando uma taxa que depende da duração do vôo até a Suíça. A vinda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Davos produziria 8,5 toneladas de CO², se fosse em avião comercial. A taxa que ele deveria pagar foi calculada em US$ 128 pelo Fórum.

Sob a pressão para que a impunidade ecológica tenha fim, a aviação civil busca soluções. Procurada, a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), entidade mundial que representa as companhias aéreas, não se manifestou ontem em Genebra.

Mas soluções em estudo incluem melhora da fluidez do tráfego aéreo, redução do peso dos aviões ou novos combustíveis. A Boeing acaba de apresentar seu novo modelo 787, produzido com 50% de material composto, como as fibras de carbono da fuselagem, mais leve e mais resistente que o alumínio e podendo reduzir seu consumo de combustível em cerca de 20%.