Título: Do banco direto para a Saúde
Autor: Sakkis, Ariadne ; Boechat, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 06/01/2011, Cidades, p. 30

Verba repassada pelo governo federal em 2008 que estava rendendo juros no Banco de Brasília será finalmente investida no setor. Mais da metade dos R$ 467 milhões irão para programas do Distrito Federal, como o Saúde da Família e o de combate à Aids

A Secretaria de Saúde vai finalmente utilizar os recursos que vieram do governo federal para serem investidos no DF e estavam depositados em aplicações financeiras do Banco de Brasília (BRB). O secretário Rafael Aguiar Barbosa adiantou ontem que vai usar os R$ 467 milhões para ajudar a tirar o setor do estado de emergência. Do total, R$ 200 milhões irão para pagamento de dívidas herdadas da última gestão e o restante será destinado a programas como o Saúde da Família e o de combate à Aids.

O dinheiro estava no BRB havia três anos. Em 2009, uma investigação do Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde (Denasus) mostrou que o GDF recebeu, em 2008, R$ 378 milhões do Ministério da Saúde para investimento em programas específicos, mas, em março de 2009, R$ 238 milhões estavam aplicados no banco. Questionado, o governo da época disse que o recurso estava investido enquanto durasse o desenrolar burocrático das licitações. O problema é que até hoje esse dinheiro permanece aplicado no BRB. A diferença é que agora, depois de três anos de rendimentos, o montante chega a R$ 467 milhões.

A inutilização dos recursos chegou a ser motivo para ameaças de devolução ao órgão de origem. Mas a promessa do governo petista é de que o dinheiro será imediatamente utilizado. O secretário Rafael Aguiar Barbosa detalhou que quase a metade da verba será usada para quitar os chamados restos a pagar ¿ débitos acumulados de um ano para outro. A dívida reclamada pelos hospitais particulares pelo aluguel de leitos de unidades de terapia intensiva (UTI) pode entrar neste rol, mas primeiro está sendo auditada pelo GDF.

Dinheiro carimbado Os demais R$ 267 milhões terão, obrigatoriamente, de ser investidos nos programas para os quais foram inicialmente destinados, como o Saúde da Família, o de combate à Aids e no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). ¿Esse dinheiro chega carimbado. Se eles falam que devemos investir no combate à Aids, devemos respeitar isso¿, explicou Barbosa nesta quarta-feira, durante visita ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC) ao lado do governador do DF, Agnelo Queiroz (PT). Na ocasião, foram anunciadas várias medidas para melhorar o atendimento na unidade hospitalar. ¿Estamos fazendo um esforço gigantesco para requisitar profissionais e recompor o quadro do hospital¿, disse o governador (leia mais na reportagem abaixo).

Segundo o secretário, os recursos aplicados no BRB serão investidos na Saúde imediatamente. ¿Estamos executando esses recursos desde hoje (ontem)¿, garantiu. Questionado sobre as dívidas deixadas pela antiga gestão, ele criticou: ¿Não há dinheiro em caixa. Só há dívidas, que chegam a R$ 100 milhões¿. As investigações do Denasus foram resultado de uma força-tarefa do governo federal no DF e decorrem de sucessivas denúncias de má aplicação dos recursos públicos por parte da Secretaria de Saúde.

HRC demanda reforma e profissionais

O governador Agnelo Queiroz (PT) continuou a saga pelos hospitais regionais do Distrito Federal, na manhã de ontem. Um dia após visitar o Gama, a equipe do Gabinete de Crise ¿ composta pelos secretários de Governo, Saúde, Obras e Transparência ¿ inspecionou o Hospital Regional de Ceilândia. Durante quase duas horas, o governador e os secretários conversaram com a cúpula do centro de saúde e olharam de perto a estrutura disponível. Apesar de avaliar o HRC como uma ¿boa perspectiva¿, Agnelo identificou questões emergenciais. Entre elas, a necessidade de consertar os aparelhos de tomografia, contratar funcionários, ampliar o espaço físico e reabrir o centro cirúrgico em 10 dias.

Segundo o governador, essas medidas poderão ser executadas em um curto espaço de tempo. Atualmente, o hospital conta com seis leitos de unidade de terapia intensiva (UTI). Mas a alta demanda obrigou a direção a fazer do setor de arquivos um espaço para internações. No futuro, o governador espera erguer um prédio à parte para acomodar 40 leitos que atendam aos pacientes neonatais, infantis e adultos.

Na próxima semana, a Secretaria de Saúde deverá abrir edital para contratação de novos médicos, principalmente clínicos-gerais e anestesistas. A diretora Imara Silva de Souza disse que são necessários de 36 a 40 clínicos e, pelo menos, 19 especialistas em anestesia.

Emergência Nos primeiros 100 dias de gestão, Agnelo pretende abrir duas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) em Ceilândia. ¿Se uma UPA realizar uma média de 500 atendimentos por dia, já desafogamos o hospital, que recebe 1.100 pessoas diariamente¿, avaliou o governador. Após denúncias de piolho de pombo e infiltrações no local, o hospital iniciou os reparos da estrutura do centro cirúrgico. No futuro, o GDF pretende construir um prédio para ambulatórios. Dessa forma, Agnelo acredita que desafogará o edifício-sede.

Um convênio garante o andamento de nove obras no HRC. A do Centro de Anatomia Patológica começou há dois meses. A ampliação da farmácia, da UTI, do banco de leite, do setor de endoscopia digestiva, laboratório, pronto-socorro e do auditório, além da construção do ambulatório, terá início em fevereiro. ¿Se o governo der os recursos que pedimos, resolvemos todos os problemas¿, disse Imara, otimista.

Do lado de fora é possível ver a situação decadente do HRC. A falta de médicos se reflete em filas quilométricas. Ontem, no entanto, quando a reportagem chegou ao local, o segurança chamou os pacientes que esperavam há pelo menos meia hora. Porém, a demora apenas mudou de lugar. Não havia médico para atender quem sentia dor do lado de fora. O vigilante Paulo Ricardo Souza Gomes, 22 anos, estava com cólica renal e chorava de dor. Fez a ficha de atendimento e foi avisado da falta de médico. ¿Vou procurar outro hospital ou voltar para casa. É muita dor e tudo o que eu quero é um medicamento¿, suplicou. (JB)

Pressão do Entorno Ceilândia é uma das mais populosas cidades do Distrito Federal: abriga um quarto do total de habitantes. Mas, além de atender a comunidade, o sistema de saúde da região administrativa recebe pacientes de cidades do Entorno, principalmente de Águas Lindas (GO), devido à proximidade geográfica. Atualmente, há apenas um hospital regional, 12 centros de saúde e duas equipes da família para atendimento em casa.

Melhorias à vista » Reabrir o centro cirúrgico do HRC nos próximos 10 dias

» Consertar os equipamentos quebrados do hospital. Os tomógrafos, por exemplo, estão encostados desde abril do ano passado

» Ampliar imediatamente a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), de seis para 10 leitos

» Ampliar o pronto-socorro

» Abrir edital na próxima semana para contratação de clínicos-gerais (de 36 a 40) e anestesistas (a demanda é de 19);

» Requisitar pessoal de outras unidades para o Hospital Regional de Ceilândia

» Construir duas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) na cidade nos próximos 100 dias

» Construir um bloco para ambulatório

» Erguer um bloco para 40 leitos de UTIs neonatal, infantil e adulta