Título: Filho de presidente não descarta candidatura
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 16/07/2007, Especial, p. A14

Pela quarta vez consecutiva, é possível que um integrante da família Lula da Silva tente a carreira política em São Bernardo do Campo. Depois das tentativas da filha Lurian Cordeiro Lula da Silva em 1996, do irmão do presidente Genival Inácio da Silva em 2000 e do sobrinho Edison Inácio Marin da Silva em 2004, desta vez quem pode se aventurar é Marcos Claudio Lula da Silva, filho do primeiro casamento de dona Marisa Letícia e adotado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Único dos filhos do casal com militância partidária , Marcos Claudio colocou em seu blog "A Esperança Virando Realidade" um link para uma página eletrônica chamada "Noticias do País", onde o primeiro texto traz uma montagem unindo Marcos Claudio e Luiz Marinho, ministro da Previdência e pré-candidato do PT a prefeito, sobre o título: "Filho de Lula...Lulinha é". O texto - não assinado - menciona uma pesquisa de opinião que colocava Marcos Claudio entre os dez nomes mais lembrados para vereador na cidade.

"É um assunto que está sendo estudado, mas não há definição alguma. Vamos esperar chegar mais perto da eleição. Existe um pessoal que quer que eu saia candidato", afirma Marcos Claudio, 36 anos, bacharel em psicologia e estudante de direito, casado e pai de Thiago, de 11 anos. O filho do presidente não sabe se o parentesco pode representar obstáculo jurídico. "Ainda não tomei nenhuma iniciativa neste sentido", disse. Também diz que não levou o assunto à discussão em família.

Filho de um motorista de táxi morto num assalto três meses antes de seu nascimento, Marcos Claudio admite que a política o atrai. "Cresci neste meio, acabo participando sem querer. Eu gosto da política", diz. Em seu blog e na sua página de relacionamentos Orkut, o filho do presidente fez um apelo público para que o então candidato a presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), retirasse sua candidatura em favor do então presidente, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Chinaglia não o fez e terminou eleito. Em nenhum momento se queixou do comportamento do blogueiro. Foi o único gesto polêmico na internet do filho do presidente, que nunca ataca a oposição a seu pai.

Este ano, Marcos Claudio pretende assistir ao Congresso Nacional do PT, como ouvinte. Esteve presente no encontro municipal do partido, que escolheu os delegados partidários da cidade para o evento. Evita se posicionar nas guerrilhas internas. "Não faço parte de nenhuma corrente", afirma.

Funcionário concursado da empresa municipal de transportes em São Bernardo do Campo, Marcos Claudio trabalhou na administração pública enquanto a prefeitura esteve sob o controle do PT. Com a mudança de gestão, em 1992, se afastou. Passou a trabalhar na TV dos Trabalhadores (TVT), ligada ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, onde seu pai foi presidente e sempre teve enorme influência. Especializou-se em artes gráficas. Participou das campanhas do pai em 2002 e 2006. Em fevereiro deste ano, se desligou da TVT. Quer tornar-se empresário. "Pretendo estruturar uma empresa, junto com amigos", afirma.

A trajetória de Marcos Claudio é radicalmente diferente da dos seus três irmãos consanguíneos de Lula e Marisa. Fabio Luiz montou a polêmica Gamecorp com o amigo Kalil Bittar, em um negócio bem sucedido do ponto de vista financeiro e que se tornou uma arma nas mãos da oposição em 2006. Sandro Luiz foi criticado por ter trabalhado no diretório estadual do PT sem obrigação de ir ao escritório do partido, em 2005, mas nunca militou. Com apenas 22 anos, Luiz Claudio estagia como preparador físico no São Paulo Futebol Clube.

O gosto pela política só se repetiu em Lurian Cordeiro Lula da Silva, filha do presidente de uma relação anterior ao casamento. Depois de concorrer sem sucesso em São Bernardo em 1996, Lurian trabalhou no escritório político do hoje senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e em 2000 mudou-se para Santa Catarina. Junto com o marido Marcelo Sato Rosa, tornou-se próxima do atual deputado federal Décio Lima (PT), à época prefeito de Blumenau. No governo de seu pai, virou alvo do PFL : dirigentes do partido divulgaram suspeitas de que o marido de Lurian intermediava encontro de prefeitos catarinenses com autoridades do governo federal e insinuações de que Lurian seria ligada a uma ONG suspeita de desvio de recursos.

A possível candidatura de Marcos Claudio é recebida com surpresa por amigos e dirigentes do PT. "Nunca ouvi falar disso e duvido que aconteça " foi uma frase dita, com algumas variantes, pelos deputados federais Vicente Paulo da Silva e Devanir Ribeiro, pelo estadual Mario Reali, pelo vereador Wagner Lino, o presidente do diretório municipal José Albino de Melo e o ex-colega de trabalho Tarcisio Secoli.

O retrospecto das outras tentativas de parentes do presidente se elegerem na cidade não é favorável para Marcos Cláudio. Lurian tornou-se candidata contra a vontade da família e obteve votação muito abaixo do necessário. O irmão Genival Inácio enfrentou as urnas no ano 2000 em uma campanha de características amadoras: seu slogan era "Vote Vavá: é só alegria!". Teve também uma votação muito pequena. O filho de Vavá, Edison Inácio, recebeu apoio da estrutura partidária e ficou com a sexta suplência.

Marcos Claudio não foi o único parente de Lula cuja possível candidatura tornou-se alvo de rumores. O nome da primeira dama Marisa Leticia Lula da Silva como candidata a vice-prefeita na chapa de Luiz Marinho também frequentou rodas de comentários, em uma onda que partiu do próprio PT. A possibilidade teria sido completamente descartada sem que o assunto tenha sequer sido levado ao exame da família Silva. É a hora de Marcos Claudio dizer: "Nunca ouvi absolutamente nada sobre isso".(C.F)