Título: Planos de opções de ações crescem entre as novatas da bolsa
Autor: Valenti, Graziella
Fonte: Valor Econômico, 16/07/2007, Empresas, p. B1

Impossível negar. Bom ou ruim, os polêmicos planos de ações e de opções agora são parte da realidade empresarial brasileira. A expansão do número de companhias listadas na bolsa disseminou a prática no mercado doméstico. Dos 44 programas registrados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) desde o início de 2004 até agora, 31 pertencem às novatas na bolsa.

Os especialistas acreditam que esse mecanismo é eficaz para alinhar interesses de administradores e acionistas - ambos visam a expansão da companhia com retorno positivo, pois ganham com a alta das ações. Mas todos advertem sobre cuidados necessários para que o programa não se transforme em armadilha para os investidores.

As opções são direitos para comprar ações com prazo e preço pré-determinados. São um importante instrumento de gestão, porém com um perigoso efeito colateral: tendem a estimular os executivos a se preocupar mais com o resultado de curto prazo do que com a sustentabilidade do negócio no longo prazo.

Na avaliação de Augusto Korps, presidente da consultoria Stern Stewart, os programas de ações e opções são uma forma de tornar a remuneração dos profissionais mais atrativa, sem que isso represente um custo excessivamente alto para a companhia. Fatia relevante das empresas que foram à bolsa são de médio porte e utilizaram esse mecanismo para atrair talentos.

Os planos de opções eram antes usados por número diminuto de empresas domésticas. Esse seleto grupo é composto, em sua maioria, por grandes companhias. As sociedades administradas pela GP Investimentos representavam parte substancial do todo, com AmBev, Lojas Americanas, Submarino e Oi (Telemar). Também já eram adeptos Itaú e Unibanco, além de Pão de Açúcar, Embraer, Gerdau, Itautec e Marcopolo.

A questão é que, mesmo quando comprometidas com o máximo em governança, as companhias ainda não dão transparência ao tema. Boa parte dos planos enviados à CVM pertence às empresas cotadas no Novo Mercado, ambiente de negociação da Bolsa de Valores de São Paulo em que se exige mais informação. Das 72 que estão no espaço especial da Bovespa, 28 compõem o pacote de remuneração dos seus executivos com esse instrumento.

Nos mercados mais maduros, o uso desses pacotes de remuneração é alvo de debate acalorado e de muita preocupação. No Brasil, a pouca informação pode ser resultado da ausência de questionamentos por parte do investidor.

"Esse é o tema em que o Brasil está mais atrasado em relação ao cenário internacional", avalia o professor Alexandre di Miceli, da Universidade de São Paulo (USP), especialista em governança empresarial. "É consenso que a remuneração dos altos executivos de empresas abertas no Brasil é uma caixa preta."

Korps, da Stern Stewart, explica por que os programas de ações e opções podem ser ferramentas importantes de gestão. De forma geral, cerca de 25% do desempenho de uma companhia depende da condução dos negócios. Os 75% restantes estão divididos entre o desempenho da economia internacional (50%) e o desempenho setorial (25%).

Ele, porém, também demonstra cautela com o assunto e recomenda um balanceamento entre as diversas formas de remuneração. "Os administradores não podem ter incentivo para manter o preço da ação artificialmente alto." Além dos programas de ações e de opções, é determinante que parcelas significativas sejam de salário e de metas operacionais e financeiras.

Os planos devem ter essencialmente como foco a convergência dos objetivos de executivos e acionistas. "Não é para enriquecer ninguém", avisa Mauro Cunha, vice-presidente do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

A importância de o presidente de uma companhia e seus diretores estarem preocupados com o valor das ações está no fato de o mercado de capitais "apreçar" o futuro. Miceli explica que as metas por desempenho são uma fotografia sobre o passado, pois tomam como base o balanço. Já o preço das ações em bolsa é termômetro para as expectativas, levando os gestores a se preocupar com a perenidade da empresa.

Miceli, da USP, lista três características que os planos de opções devem ter para evitar problemas. A primeira é o prazo de exercício, que precisa ser longo para mitigar interesses imediatistas de lucro. A segunda é o preço, que não deve ser descontado frente à cotação em bolsa . A terceira são as informações sobre o programa, como percentual da remuneração que representa e a data de concessão das opções.

Cunha, do IBGC, enfatiza a necessidade de que tanto os planos como suas explicações sejam simples. Segundo ele, é imprescindível para a transparência das empresas que não haja dificuldade de compreensão pelos investidores. Korps recomenda ainda que o preço de exercício esteja atrelado à comparação das ações na bolsa com a de outras do mesmo setor ou com o Índice Bovespa. "Assim, evita-se premiar um executivo que é o último de seus pares."

Quem tem

Planos de ações e opções registrados na CVM de 2004 até hoje:

Abyara* Agra Empreendimentos* AmBev American Banknote* Bematech* Br Malls* CBD - Pão de Açúcar Company* Contax CR2 Empreendimentos* Cremer* CSU Carsystem* Cyrela* Datasul* Drogasil* Embraer Equatorial EZ Tec* Fertilizantes Heringer* Gafisa* Gerdau Gradiente GVT Telecom* Iguatemi* Itautec JBS-Friboi* Lojas Americanas Marcopolo Medial Saúde* Metalfrio* Metalúrgica Gerdau MMX Mineradora* Natura* PDG* Plascar Positivo Informática* São Carlos* SLC Agrícola* Submarino* TAM Tecnisa* Telemar - Oi Unibanco Wilson Sons

*Empresas listadas no Novo Mercado da Bovespa

Fonte: Site da CVM