Título: Rio Madeira tem seguro bilionário
Autor: Silva Júnior, Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 16/07/2007, Finanças, p. C1

O mercado de seguros está agitado como nunca. A aprovação pelo Ibama para a construção das duas usinas do Rio Madeira no início do mês animou o setor, que já começa a se movimentar para ver quem vai ficar com as apólices bilionárias. A euforia chegou também ao mercado externo. As maiores resseguradoras do mundo, que devem ficar com a grande parte do risco, já estão avaliando o projeto e fazendo reuniões com o mercado local.

O mercado fala que este seguro seria hoje o de maior valor no mundo. No Brasil, não houve nada igual para o setor desde a construção de Itaipu, que começou em 1978. A obra prevê investimentos totais que podem chegar a R$ 25 bilhões. Serão construídos duas usinas.

O Valor apurou que alguns consórcios já fecharam contrato com as seguradoras. A UBF, que tem como um dos sócios a Swiss Re, maior resseguradora mundial, fechou com dois consórcios, um deles liderado pela construtora Camargo Corrêa.

Já a construtora Odebrecht amarrou um contrato de exclusividade com três grandes seguradoras: J. Malucelli, a maior no país em seguro garantia, Unibanco AIG e a Áurea Seguradora de Créditos e Garantias, que tem como sócios, por meio de um consórcio, a Munich Re, segunda maior resseguradora do mundo, o BBVA e o Santander, além do Bradesco. O projeto do seguro para o Rio Madeira foi feito há seis mãos e contou com apoio da OCS, a corretora de seguros do grupo Odebrecht.

Como o contrato é de exclusividade com a Odebrecht, as três seguradoras estão impedidas de participarem de outros eventuais consórcios que venham a se formar. Já a UBF, que fechou apenas com acordo de confidencialidade, tem essa possibilidade.

Neste primeiro momento, a apólice que precisa ser contratada é o seguro garantia. A apólice cobre o prejuízo de um contrato de construção não ser cumprido no prazo. A seguradora não se limita a pagar o sinistro, caso ocorra, mas pode garantir que o próprio contrato seja cumprido dentro do prazo. Por isso, tem interferência direta na obra.

Em alguns casos, para conseguir financiamento público, é necessário que a construtora apresente o seguro garantia para ocorrer a liberação dos recursos. No caso do Rio Madeira, quem contrata a apólice é o consórcio vencedor.

O projeto já foi apresentado para as resseguradoras. Pelo tamanho dos valores envolvidos, a grande parte do risco terá que ser colocada lá fora, com parcela mínima ficando no mercado interno. A importância segurada deve ficar na casa dos bilhões de reais, estima-se que em mais de R$ 2 bilhões, e o prêmio na "casa dos muitos milhões", como afirma um executivo envolvido no projeto.

Mas por enquanto ninguém do mercado fala em números mais precisos. As seguradoras dizem que, sem o resultado da licitação, é impossível qualquer estimativa. Isto porque, para calcular o prêmio, é preciso saber em detalhes, além das empresas que integram o consórcio vencedor, outros fatores como o prazo para construção da obra, o tipo de financiamento e até quem são os fornecedores do consórcio escolhido. Pois atrasos em fornecimento podem atrasar o cronograma da obra.

Em agosto, deve ser divulgado o edital da obra da primeira usina. Em outubro, as propostas dos consórcios devem ser apresentadas.

O setor de seguro garantia registrou prêmios diretos de R$ 92 milhões de janeiro a maio, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Em relação ao ano passado, houve expansão de 18%. A J. Malucelli é a líder, seguida pela UBF e pela Áurea. Só as três companhias detém 80% do mercado. A J. Malucelli sozinha tem 53%.

Os analistas esperam um boom para o mercado de seguro garantia até 2010, com vários projetos, há muito discutidos, saindo da gaveta. As próprias usinas do Rio Madeira estavam sendo analisadas pelo Ibama há dois anos. Há ainda projetos de energia alternativa, petroquímica e de rodovias.