Título: Renan ausenta-se de sessão e facilita aprovação da LDO
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 12/07/2007, Política, p. A9

O Congresso Nacional aprovou, ontem à noite, com alterações pontuais, o substitutivo da Comissão Mista de Orçamento ao projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) da União para 2008. A aprovação só foi possível porque o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) desistiu de presidir a sessão sob pressão do Palácio do Planalto e ante a ameaça de obstrução feita pela oposição. Os trabalhos foram comandados pelo 1º vice-presidente, deputado Nárcio Rodrigues (PSDB-MG).

Às 22h15, a votação ainda não tinha sido concluída. Mas faltavam ser votados apenas os destaques. O recuo de PSDB, DEM, PSOL, PPS em fazer obstrução permitiu que o texto base do projeto e os adendos propostos pelo relator, deputado João Leão (PP-BA), fossem aprovados por votação simbólica.

Um pouco antes da sessão, Re-nan foi ao Planalto afirmar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que está sendo "vítima de uma campanha política". Informou ainda ao presidente ter solicitado ao Ministério Público Federal para que seja investigado em relação às acusações de uso de notas frias para compra de gado e de recorrer a recursos de empreiteiras para pagamento de despesas pessoais. "Vou provar que não há nada contra mim", assegurou Renan, segundo relato de fontes do Planalto.

A preocupação de Lula com o risco de a LDO não ser votada, caso Renan presidisse a sessão do Congresso - como vinha insistindo que faria, desafiando os adversários -, foi manifestada ao pemedebista pelo presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e pelo líder do governo na Câmara, José Múcio (PTB-PE), em reunião pela manhã.

Apesar da movimentação de emissores do Planalto supostamente tentando convencê-lo a desistir da idéia de presidir a sessão, aliados próximos de Renan disseram que a articulação serviu para dar argumentos políticos à sua ausência na sessão, evitando que ele fosse acusado de não ir por temer as ameaças de deputados da oposição.

Temer e Múcio defenderam que Renan deixasse o deputado Narcio Rodrigues (PSDB-MG), primeiro vice-presidente da Câmara, comandar a sessão do Congresso, que reúne deputados e senadores. Temer e Múcio se reuniram, no meio da manhã, com o ministro da coordenação política, Walfrido dos Mares Guia. A líder do governo no Congresso, senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), negou preocupação do Planalto, mas ajudou na fundamentação da ausência de Renan. Disse que, nos últimos anos, a praxe era que o vice-presidente comandasse a votação .

Temer, Múcio e Roseana garantiram que o Planalto não interferiu na decisão de Renan. Mas Mares Guia expressou a preocupação do governo em aprovar a LDO, sem contratempos. Pediu ainda ao PMDB que assegurasse o quórum para sacramentar a votação.

Na última segunda, durante reunião da coordenação política, Mares Guia assegurou que a LDO seria votada antes do recesso. Desde a semana passada o governo dava como certa a desistência de Renan em presidir a sessão do Congresso, numa exposição política desnecessária.

Mas o pemedebista vinha reafirmando disposição de enfrentar o constrangimento. Começou a sinalizar mudança de posição na noite de terça-feira. Ontem, em duas entrevistas, Renan tentou ignorar que era o motivo da crise. Disse que presidiria a sessão se fosse necessário "para botar a ordem na casa". Disse que Narcio Rodrigues tinha competência para conduzir a votação, e que ele iria "se os trabalhos não tivessem andando condizentemente".

Depois da conversa com Mares Guia, Temer e Múcio decidiram procurar Renan. O presidente do PMDB ligou para ele por volta de meio-dia. Sugeriu um encontro na residência oficial do Senado, mas Renan preferiu conversar na presidência do partido. Ao chegar lá, além de Temer, Múcio esperava por ele. "Mostramos a Renan que seria melhor para todo mundo que ele não fosse. Seria melhor para a Casa, para o país, para o Congresso e para ele próprio".

Temer acrescentou que a sessão do Congresso, caso ele insistisse em presidir, se transformaria "num circo", com bate-bocas desnecessários à véspera do recesso, complicando ainda mais a imagem do Legislativo perante a opinião pública. Renan deixou a Câmara e, no meio da tarde, anunciou que não presidiria a sessão do Congresso. Resolvido o impasse, Temer chamou ao seu gabinete o líder do PSOL na Câmara, Chico Alencar (RJ) e do PV, Fernando Gabeira (RJ). Comunicou a decisão de Renan e pediu que, diante da ausência do senador, não fossem feitas manifestações ou ataques políticos no plenário que atrapalhassem a votação.