Título: Alta de metais dá fôlego a movimento mineiro na AL
Autor: Souza, Marcos de Moura e
Fonte: Valor Econômico, 12/07/2007, Internacional, p. A11

A alta dos preços internacionais dos minérios está agitando a vida sindical em alguns países latino-americanos. No Chile, México, Peru e Bolívia, organizações de trabalhadores das minas vêm pressionando empresas privadas e governos por maiores salários e melhores condições de trabalho. Os mineiros reivindicam uma fatia das cotações recorde de metais como cobre e estanho.

No Chile, o maior produtor de cobre do mundo, a Collahuasi, uma das das maiores minas do país, permanecia em greve ontem pelo terceiro dia consecutivo. O sindicato do mineiros exige 8% de aumento acima da inflação, o dobro do que as empresas que controlam a mina - a Xstrata e a Anglo American - ofereceram. Desde o dia 25 de junho, funcionários de outra empresa, a estatal chilena Codelco, também estão parados.

A cotação do cobre quase triplicou nos últimos três anos. "Os preços estão tão altos que os trabalhadores sentem que essa é uma oportunidade para que ganhem mais", avalia Brian Chase, analista do UBS Pactual.

No México, trabalhadores do Grupo SAB, o sétimo maior produtor de cobre do mundo, cruzaram os braços por um dia - em 5 de julho - exigindo mais segurança. E no Peru, mineiros que trabalham na extração de cobre ameaçaram com uma paralisação esta semana, que acabou sendo contornada provisoriamente com abertura de negociações; neste caso o que está em pauta é a tentativa das empresas de restringir a criação de novos sindicatos.

Na Bolívia, também há um clima de tensão por causa da pressão de organizações de mineiros de estanho, que fecharam há alguns dias a maior mina do país.

"O movimento sindical se fortalece quando há uma alta dos preços dos minérios, porque as empresas investem mais e contratam mais funcionários, aumentando a quantidade de trabalhadores que pressionam por maiores ganhos", disse ao Valor Dante González, pesquisador boliviano de questões relacionadas a direitos humanos e diretor da Fundação Bolívia Digna, que acompanha movimentos sociais. Para González, esse fortalecimento sindical é o oposto do que ocorreu na Bolívia entre os anos 80 e 90 quando o setor de mineração foi amplamente privatizado e uma grande quantidade de trabalhadores foi demitida. "O movimento mineiro perdeu então força de articulação e pressão", disse.

Segundo ele, a alta dos preços dos minérios tem levado os sindicatos de mineiros a cobrarem não apenas maior distribuição dos ganhos como também maior participação nos processos de tomada de decisão. Os mineiros da mina estatal de Huanuni cruzaram os braços na semana passada para exigir maior controle sobre a produção e sobre os ganhos cada vez maiores. Graças à alta dos preços internacionais do estanho, o governo teve um lucro de US$ 15,8 milhões nos primeiros cinco meses do ano.

As pressões sindicais já estão tendo um impacto nos preços dos metais. As greves e protestos estão alimentando preocupações de que o abastecimento dos metais (em especial de cobre) possa ser interrompido, pressionando ainda mais as cotações. Para outro analista do UBS, Ben Laidler, as manifestações do movimento mineiro tendem a durar. "Quanto mais altos os preços, mais você vai ver esse tipo de ação".

(Com agências internacionais)