Título: Profissionalização turbina eficiência
Autor: Rocha, Alda do Amaral
Fonte: Valor Econômico, 12/07/2007, Agronegócios, p. B16

A recente onda de profissionalização dos frigoríficos brasileiros de carne bovina - que culmina com o lançamento de ações na bolsa de valores - gera mudanças em toda a cadeia da pecuária de corte do país. Ao mesmo tempo em que grandes frigoríficos investem ou reforçam os investimentos em confinamento de gado para não ficar à mercê do mercado na época da entressafra do boi, grandes pecuaristas formam pools de venda de animais e de compras de insumos para reduzir custos e ter maior poder de barganha ante as empresas. Diante do ritmo acelerado dos frigoríficos, os pecuaristas também correm atrás dos dividendos decorrentes do avanço do setor, alavancado principalmente pelo avanço das exportações de carne bovina.

A produção de gado no Brasil - cujo rebanho está estimado em 207 milhões de cabeças pelo IBGE - ainda é muito fragmentada, observa Miguel Cavalcanti, da Agripoint, mas há um movimento em direção à profissionalização liderado por parte de grandes pecuaristas. "Os maiores estão se profissionalizando, investindo na produção, na gestão e na comercialização", afirma.

Uma das saídas para melhorar a gestão dos negócios e "peitar" os frigoríficos, como diz José Vicente Ferraz, do Instituto FNP, é o associativismo. Dois exemplos desse tipo de iniciativa são a Conexão Delta G e a Associação Nacional dos Confinadores (Assocon). "Os pecuaristas estão tentando acompanhar para não ficar para trás", observa Breno Barros, vice-presidente da Conexão Delta G, que promove a venda em conjunto de animais para abate nos Estados do Centro-Oeste, São Paulo, Minas Gerais, Tocantins e Bahia. Assim, afirma, "o pecuarista consegue preço melhor do que obteria individualmente".

Desde sua formação, o grupo, que reúne 53 fazendas associadas, atua na promoção do melhoramento genético de animais das raças nelore e braford, para obter precocidade (abate de animais jovens). Mas há cerca de cinco anos, além de melhoramento genético também passou a atuar como pool de venda de animais e compra de insumos. Segundo Barros, pela precocidade, volume e padrão dos animais, o pecuarista recebe bônus que chegam até 7% do preço.

Apesar do alcance ainda restrito, tais iniciativas vêm ganhando corpo no Brasil. No início do ano passado, um grupo de confinadores decidiu reativar a Assocon, criada nos anos 1980. Na retomada, eram apenas 12 pecuaristas, mas hoje já são 50 espalhados por Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo e Paraná, de acordo com Ricardo Merola, presidente da associação.

Além de suporte técnico aos associados, a Assocon coordena a compra de insumos para o grupo e formou um pool de vendas de gado bovino. Fez um acordo com cinco frigoríficos - mas não divulga quais - que pagam um adicional de 3% a 5% pelo volume de gado entregue e padrão dos animais.

Com o crescimento do grupo, a meta inicial da Assocon de em cinco anos atingir o abate de 1 milhão de cabeças [do total dos animais confinados que vão para abate no país] deve ser atingida antes, afirma Merola. Só neste ano, a Assocon deve fornecer 550 mil animais para abate. Um volume significativo, considerando que o número de animais confinados em todo o país está estimado entre 2,5 milhões e 3 milhões, num abate total de 40 milhões a 44 milhões de cabeças.

"Fica cada vez mais claro que isso [a criação de pools] é necessário", diz Cavalcanti, da Agripoint.

O analista Fabiano Tito Rosa, da Scot, acrescenta que, afora essas iniciativas, a pecuária também vem registrando ganhos de produtividade nos últimos anos, com maior uso de tecnologia (como adubação e manejo de pasto e melhoramento genético dos animais). Com base em dados do IBGE, a Scot estimou que entre 2001 e 2006, o rebanho brasileiro cresceu 15%. No mesmo período, a produção de carne cresceu 53% enquanto as áreas de pastagens encolheram 1,5%.

Mas o ganho de rendimento na pecuária bovina também tem uma explicação perversa, lembra um outro analista do setor. A baixa rentabilidade nos últimos anos levou a um enxugamento na pecuária, com pequenos produtores deixando a atividade ou arrendando suas pastagens para cana-de-açúcar.