Título: Para Cabral, vaias contra Lula no Maracanã foram orquestradas
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Fonte: Valor Econômico, 17/07/2007, Política, p. A6

O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), disse ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi vítima de uma armadilha na cerimônia de abertura dos jogos Pan-Americanos, no estádio do Maracanã na última sexta-feira. Na ocasião, Lula foi vaiado seis vezes pelo público e não discursou.

"O presidente é tão magnânimo que não são armadilhas montadas que vão superar seu amor pelo Rio", afirmou. Cabral disse que ninguém 'em sã consciência' vaiaria Lula. "Ele foi aplaudido durante a visita à vila do Pan. Durante a carreata, passamos pela Tijuca, que é um bairro de classe média, e a população saudou sua passagem. (A vaia) foi muito bem localizada, à esquerda do Maracanã", afirmou.

Questionado se a 'armadilha' contra o presidente teria sido feita pelo prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), o governador despistou. "Eu não disse que foi ele (prefeito). Só sei que quem fez, fez muito mal. Foi um bumerangue que voltou e bateu na cabeça do responsável. O Lula não ajudou o Pan pensando em direito autoral. Foi pensando no povo brasileiro", comentou.

Cabral disse ainda que o presidente Lula "ama tanto" o Rio que voltará à cidade na sexta-feira para a posse da nova diretoria da Academia Brasileira de Letras.

Com argumentos parecidos com os de Cabral, o deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR) disse que as vaias recebidas pelo presidente Lula na abertura dos jogos foram 'ensaiadas'. Lula foi vaiado seis vezes e não fez a declaração habitual de abertura dos jogos, como previa o protocolo.

"A vaia não foi algo natural. Foi algo construído. É evidente que alguém armou para o presidente ser vaiado", disse o deputado. Para reforçar a tese , dr. Rosinha afirmou que há um vídeo no site Youtube que mostra o suposto ensaio da cerimônia de abertura do Pan, realizado na quarta-feira passada. O vídeo mostra que assim que se menciona o nome do presidente, o público vaia.

Sem atribuir diretamente a culpa pelas vaias, o deputado petista questionou o fato de o prefeito do Rio ter sido aplaudido na mesma cerimônia. "É estranho que o prefeito, com todos os problemas da sua administração, tenha sido aplaudido." Dr. Rosinha também estranhou o fato do prefeito fluminense ter dispensado de suas atividades os servidores que fossem trabalhar como voluntários no Pan. Na semana passada, o ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., atribuiu as vaias a um movimento organizado. "É só observar de onde vinha que dava para perceber que era uma coisa orquestrada", disse.

No programa de rádio 'Café com o Presidente', Lula falou sobre o episódio: "A vaia e o aplauso são dois momentos de reação do ser humano. A única coisa que eu, particularmente, fico triste é que eu fui preparado para uma festa. É como se eu fosse convidado para o aniversário de um amigo meu, chegasse lá e encontrasse um grupo de pessoas que não queria a minha presença lá. Eu tenho certeza de que não é esse o pensamento do Rio de Janeiro. Depois que terminou o evento, várias pessoas vieram dizer que tinha sido organizado, que gente tinha recebido o convite. A mim, não me interessa o que aconteceu. O importante é que foi uma abertura extraordinária dos Jogos Pan-Americanos".

Lula ainda comentou a importância do Pan para o Rio. "Eu tenho consciência do que representa o Rio para o Brasil. Eu tenho consciência de que o povo do Rio tem sua auto-estima nesse momento muito melhor do que tinha três, quatro anos atrás. Nós vamos trabalhar, nós temos muitos projetos para trabalhar no Rio de Janeiro. Isso (as vaias) não muda um milímetro do meu comportamento com o Rio. O Rio de Janeiro - a gente poderia dizer- continua lindo e merece que o governo federal faça o que for possível para a cidade".

Em seu ex-blog, o prefeito Cesar Maia comentou o ocorrido: "A assessoria de Lula decidiu conquistar o Rio - onde sua avaliação é a pior do Brasil - a partir da posse do novo governador. Destacou volumosa transferência de recursos e passou a trazer Lula ao Rio com freqüência às vezes semanais. Numa dessas, ele teve quatro eventos no mesmo dia e sempre acompanhado das ? claques de aluguel ? . (...) O governador - que deveria ter o papel principal - foi tratado como coadjuvante. Resultado: a produtividade política foi nenhuma", escreveu Maia.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador de São Paulo, José Serra, dividiram-se sobre as vaias. FHC disse que Lula poderia tirar lições de humildade do episódio. " O presidente precisa olhar (e pensar): 'Será que sou tão bom quanto estou dizendo que sou'", disse o ex-presidente, usando um tom ácido. "Um pouco de humildade ajuda", completou o tucano ontem, em São Paulo. Serra , destacou que não acredita que o protesto tenha sido previamente combinado. "Não creio que foi uma vaia organizada. Não há quem tenha capacidade de fazer isso". Serra relatou que enquanto assistia à saia-justa de Lula recordou-se de Nelson Rodrigues, que dizia que até mulher nua pode ser vaiada no Maracanã. (Cristiane Agostine, de São Paulo, com agências noticiosas)