Título: Presidente do PT sai em defesa de Renan Calheiros
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 17/07/2007, Política, p. A10

O PT fez ontem defesa enfática do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), acusado de ter suas contas pessoais pagas por um lobista e alvo de processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. "Não aceitamos linchamento público nem constrangimento para forçar o presidente Renan Calheiros a se licenciar ou renunciar à presidência do Senado", disse o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP).

Berzoini nega, mas a declaração dada por ele ontem foi vista como uma demonstração de que o governo começa a interferir de maneira mais incisiva na crise instalada no Senado. "Não há razão para o partido se posicionar do ponto de vista partidário. Nunca houve nenhuma cobrança do senador Renan em relação a nosso posicionamento. Todas as vezes em que conversei com o senador nesse período foi uma conversa tranqüila", afirmou Berzoini.

A estratégia do presidente do Senado, segundo interlocutores de Renan, visa fazer com que a crise se transforme em um embate entre governo e oposição. "Colar no Lula serve para construir um jogo de base versus oposição", confirmou um aliado do senador. A estratégia seria importante para uma eventual votação no plenário para decidir sobre a cassação do senador.

Além de ter se encontrado com Renan na última quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria conversado, segundo apurou o Valor, com o presidente do Senado no fim de semana. O Palácio do Planalto nega a informação, confirmada, no entanto, por um aliado do governo. As conversas freqüentes de Lula e Renan têm fornecido mais munição para a oposição fazer críticas ao governo.

Ontem, o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), acusou o governo de articular manobra de protelação na reunião da Mesa Diretora do Senado, marcada para as 11h de hoje. A declaração de Berzoini, favorável a Renan, teve o objetivo de proteger o primeiro-vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), que presidirá a reunião da Mesa.

Os integrantes da Mesa decidirão se remetem à Polícia Federal um pedido do Conselho de Ética para ampliar a investigação sobre os documentos entregues por Renan para comprovar que tinha rendimentos para pagar suas contas. Segundo Agripino, se algum integrante da Mesa aliado do presidente do Senado pedir vista do processo, será a prova da interferência do Planalto.

"Se alguém vier a pedir vista, seria para procrastinar. Tudo pararia por 12 ou 13 dias. Seria muito ruim para a imagem do Senado. Se alguém pedir vista, será por orientação do Palácio do Planalto", disse Agripino, numa declaração que era esperada pelo PT, onde se acredita que o objetivo da oposição é colocar sob suspeição qualquer decisão que venha a ser tomada por Tião Viana na reunião de hoje.

Segundo Agripino, na última semana, nenhum integrante da Mesa falava em pedir vista do caso. A mudança passaria pelo Planalto. Diante dessa possível manobra, Agripino telefonou para Tião Viana (PT-AC). "Ele me disse que não há essa hipótese (de manobra). O senador Tião Viana me disse que o objetivo dele é acelerar o processo".

Ainda segundo Agripino, o senador Magno Malta (PTB-ES), também teria telefona a Tião. "Não contem comigo para pedir vista", teria dito Malta para o petista. O pedido de vista paralisaria o processo contra Renan até agosto, porque amanhã já começa o recesso parlamentar de duas semanas. Seria a única saída para o presidente do Senado interromper momentaneamente a caminhada das investigações. A outra possibilidade seria evitar que a reunião acontecesse por falta de quorum, mas a oposição tem número suficiente de parlamentares na Mesa para conseguir chegar à presença mínima de quatro senadores para a reunião acontecer.

Além de ter falado com Lula, Renan também esteve com o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) no final de semana. O pedetista diz que o presidente do Senado teria admitido que poderia ter se afastado antes para se defender sem constrangimentos no Conselho de Ética. "O Renan estava menos firme do que o habitual. Ele admitiu que errou quando se defendeu das acusações misturando sua questão pessoal com a presidência", afirmou Cristovam. Hoje, no entanto, não sai do cargo em hipótese alguma. "Ele (Renan) admite que, se sair agora, seria entregar os pontos", afirmou.