Título: Taxa de câmbio e o desempenho do turismo internacional no Brasil
Autor: Cruz, Marcio V. da e Andrade, José Roberto
Fonte: Valor Econômico, 17/07/2007, Opinião, p. A14

O impacto do fluxo turístico internacional (receptivo e emissivo) na economia brasileira pode ser parcialmente avaliado através da Conta Viagens Internacionais, que compõe a Conta de Serviços no Balanço de Pagamentos. É interessante observar que a receita gerada pelo turismo internacional no Brasil deve ser considerada como uma exportação de serviços, da mesma forma que os gastos dos turistas brasileiros no exterior devem ser considerados como importações deste setor. Analisando uma série histórica de 1947 a 2006, observa-se que o saldo da conta Viagens Internacionais no Brasil é deficitário, a exceção dos anos 1989, 2003 e 2004.

O desempenho do saldo da conta Viagens Internacionais para o período pós-Plano Real, no qual se destaca o aumento das despesas no período 1994/98 e após 2004, pode ser observado na tabela ao lado.

Uma questão importante para a análise refere-se à relevância da taxa de câmbio para a atividade turística no Brasil. Modelos econométricos indicam haver uma elevada sensibilidade para com a taxa de câmbio por parte dos gastos dos brasileiros no exterior e uma baixa sensibilidade por parte dos gastos dos estrangeiros no Brasil. Isto quer dizer que a valorização ou desvalorização expressiva da taxa de câmbio tende a afetar muito mais as importações de viagens internacionais (gastos dos turistas brasileiros no exterior) do que as exportações destes serviços. A análise dos dados da tabela corroboram esta afirmativa.

Cabe ressaltar que o impacto da taxa de câmbio na atividade turística tende a se diferenciar da maior parte das relações comerciais de bens, pelo fato de que nas viagens internacionais ocorre o deslocamento do consumidor, incorrendo desta forma em dois custos relevantes: a) custo da viagem e b) custo do destino. Uma vez que os preços do custo da viagem estão dados no mercado internacional, tudo o mais constante, a desvalorização do câmbio por parte de um determinado país irá alterar os preços relativos ao custo do destino. Porém, não terá impactos expressivos no custo de viagem ao país para os estrangeiros, enquanto, terá impacto para todos os custos de viagem de residentes ao exterior.

-------------------------------------------------------------------------------- É necessário melhorar a capacitação da mão-de-obra, diversificar a oferta de serviços turísticos e profissionalizar o setor --------------------------------------------------------------------------------

Se a taxa de câmbio tem um papel fundamental na explicação do aumento das despesas com viagens internacionais, o que explicaria os resultados favoráveis relacionados à melhora das receitas advindas deste segmento no Brasil? Dentre os fatores importantes, destacam-se: o crescimento econômico dos principais emissores (como Argentina e Estados Unidos), a melhoria das condições de oferta dos serviços e o avanço nas ações de promoção do Brasil como destino turístico.

Contudo, outras variáveis relevantes na determinação do fluxo internacional de turistas, seguem não muito favoráveis ao país, dentre elas a questão da segurança, que recentemente tem sido um problema ampliado também ao transporte aéreo. Além disso, cabe lembrar que a distância geográfica do Brasil frente aos importantes emissores internacionais, mantém uma barreira ao aumento do fluxo de estrangeiros. Desta forma, estamos muito distante do "sonho" aventado por alguns em alcançarmos o número de turistas recebido pelo México (21,9 milhões em 2005, frente a 5,3 milhões no Brasil, no mesmo ano). Cabe lembrar que 93% do fluxo de turistas em terras mexicanas advém do vizinho Estados Unidos, de acordo com dados da Organização Mundial de Turismo.

Considerando a atual valorização cambial, o déficit do saldo em viagens internacionais tenderá a aumentar, ampliando a reversão da tendência observada entre 2001 e 2004. É importante destacar que este déficit pode ser reduzido pela substituição por viagens domésticas, principalmente referentes ao segmento lazer. Pesquisa realizada pela FIPE/Embratur em 2006 demonstra que 2/3 dos brasileiros que viajam ao exterior estariam dispostos a trocar essa viajem por uma viajem no próprio país desde que fatores como preços menores nos pacotes domésticos, além de maior segurança, sejam solucionados. Por fim, apesar das restrições existentes, é necessário seguir com as ações que visem a profissionalização do setor, melhoria da capacitação da mão-de-obra e diversificação da oferta de serviços turísticos de forma a seguir atraindo mais estrangeiros ao país, visto que além da geração de divisas, trata-se de uma atividade bastante expressiva quanto à geração de empregos.

Marcio José Vargas da Cruz é professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná - marciocruz@ufpr.br

José Roberto de Lima Andrade é professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Sergipe - roblima@uol.com.br