Título: Produtividade da indústria cresceu 6,3%
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2005, Brasil, p. A4

Nos onze primeiros meses de 2004, a indústria brasileira acumulou um ganho de produtividade da ordem de 6,3%. É o melhor resultado em cinco anos e foi possível graças ao crescimento da produção em ritmo mais acelerado do que o apresentado pelo emprego industrial. De janeiro a novembro, na comparação com o mesmo período do ano anterior, a produção teve alta de 8,3%, segundo dados do IBGE, enquanto o emprego cresceu 1,7%, e a quantidade de horas pagas ficou 1,9% maior, também segundo o instituto. Para Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e autor dos cálculos de produtividade, é o primeiro momento desde 1999 em que esse crescimento "é inequívoco e ocorre tanto pela melhora no volume produzido pelas empresas quanto do pessoal empregado na indústria". Ele ressalta, entretanto, que é natural o emprego caminhar atrás da produção, já que só um cenário mais seguro para o empresariado é capaz de incentivar a abertura de novas vagas. Almeida acredita que em 2004 o avanço da produtividade fique em torno de 6%. De acordo com dados do Iedi, entre 1999 e 2002, a produtividade cresceu apenas 0,6% ao ano, reflexo do desempenho pouco favorável da produção e da falta de investimento em modernização do parque fabril, o que demandou mais trabalhadores no setor. Em 2003, a produtividade teve leve aumento de 0,4%, mas tanto o emprego quanto a produção encolheram naquele ano. Ainda assim, a queda do emprego foi em magnitude maior à apresentada pela produção.

O aumento de produtividade no ano passado foi liderado pelo setor de produtos de metal, com ganho de 13,7%, e de máquinas e equipamentos, que cresceu 9,4%. Nos produtos de metal, o volume físico produzido ficou 9,2% maior, ao mesmo tempo em que o emprego mostrou retração de 5,1% e as horas pagas declinaram 4%. Para o diretor-executivo do Iedi, esse movimento pode ter ocorrido devido à modernização das fábricas, o que acaba por reduzir a necessidade de mão-de-obra. O mesmo foi verificado nos ramos têxtil e de vestuário e acessórios. Na indústria têxtil, o ganho de 11,8% na produtividade foi possível devido ao aumento de 10,5% na produção e à queda de 8% tanto nas horas pagas quanto no número de empregados. Para o economista da LCA Consultores, Fábio Romão, têxtil e vestuário são os ramos que mais têm relutado em apresentar recuperação. O primeiro ainda teve desempenho melhor, pois se voltou à exportação. E, para atender essa demanda, os empresários optaram por investir em modernização e não em contratar mais gente. No caso do vestuário, a situação é mais complicada. "Como o setor depende muito do mercado interno, a recuperação é lenta. Começou nos bens duráveis, chegou aos não-duráveis e só agora começa a impactar os semi-duráveis", acrescenta Romão. Até novembro, o volume produzido sofreu incremento de apenas 0,7%, enquanto a quantidade de vagas declinou em 0,4% e a das horas pagas em 1,2%. Já na indústria de máquinas e equipamentos, houve uma preocupação com o ganho tecnológico, afirma o economista da LCA. Em um primeiro momento, a produção cresceu de olho no mercado externo. Com a melhora da economia brasileira, as empresas passaram a investir pesado em mão-de-obra qualificada para atender à demanda doméstica por bens de capital. Houve um avanço de 9,4% na produtividade desse setor, devido à alta de 17% da produção - no acumulado de janeiro a novembro - e de um incremento de 13,9% no emprego e de 14,8% na horas pagas. "O fato de o emprego ter aumentado numa intensidade menor que a da produção explica tal ganho de produtividade", diz.