Título: Aumentam dúvidas sobre Rodada Doha com EUA sem TPA
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 20/07/2007, Brasil, p. A3

Alguns países do G-20, o grupo liderado pelo Brasil, começaram a indagar como a Rodada Doha pode entrar seriamente numa nova fase de negociação sem que os Estados Unidos, o mais pressionado a cortar subsídios agrícolas, ponto chave para acordo global, tenha mandato para negociar. A administração Bush não tem mais o instrumento chamado Autoridade para Promoção Comercial (TPA, na sigla em inglês), que expirou em fim de junho. O TPA é essencial porque impede o Congresso de emendar os acordos assinados pelo governo e assim dá mais segurança aos parceiros dos EUA.

Segundo participantes, ontem foram Cuba, Bolívia e também indiretamente Nigéria, que levantaram a questão, que não deixa ninguém indiferente. Em todo caso, o grupo como um todo reagiu com "cautela" e "visão pragmática", segundo um embaixador. Nenhum país julgou que não vale continuar a negociação. E sim que é preciso manter a pressão sobre os EUA, na expectativa de que Washington mostre até setembro ou outubro seu real nível de engajamento para levar adiante a Rodada Doha.

O mediador da negociação agrícola propõe que os EUA limitem seus subsídios domésticos agrícolas mais distorcivos a US$ 13 bilhões ou a US$ 16,4 bilhões. A primeira cifra parece acima do que os americanos aceitam e a segunda é recusada pelos outros países, que a julgam alta demais.

Após reunir o G-20, que é um grupo para a negociação agrícola, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, se encontrou com o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, a quem expressou preocupação com o "evidente desequilíbrio" entre as propostas de liberalização agrícola e industrial nos textos apresentados pelos mediadores das duas negociações.

Em entrevista, ele exemplificou que o Brasil primeiro fez liberalização pela Rodada Doha, depois unilateralmente, e agora está sendo punido por isso, ao ser cobrado a uma redução tarifária acima de 50%. Amorim, porém, procurou sempre deixar a porta aberta para a negociação. Não repetiu que "nada é inaceitável", pronunciado em Bruxelas no dia anterior. Mas certos negociadores do G-20 apreciaram seu tom, que julgaram bem diferente do pós-Potsdam. O próprio Amorim destacou a unidade do grupo. "A reunião do G-20 foi muito boa, não vi nenhuma atitude negativa", afirmou.

Na semana que vem, o grupo divulgará comunicado mandando a mensagem de que está disposto a negociar, mas que o texto agrícola precisa de correções para garantir real acesso aos mercados. Em setembro, o grupo apresentará suas propostas de melhoras do documento.