Título: Em busca de união com a população
Autor: Almeida, Amanda
Fonte: Correio Braziliense, 01/01/2011, Política, p. 6

Reeleito com 62,72% dos votos válidos, o governador Antonio Augusto Anastasia (PSDB) aponta a participação popular como uma das principais apostas de seu novo mandato, a partir de 1º de janeiro. Após o Choque de Gestão, lançado para equilibrar as contas da máquina pública, e o Estado para Resultados, que perseguiu metas para melhorar indicadores sociais, o próximo passo da administração tucana no Palácio da Liberdade será, nas palavras dele, aproximar o povo dos processos de decisão. ¿A casa está em ordem. As políticas públicas geram efeito. Vamos agora fazer com que as pessoas participem disso. Porque muitas não sentem, ainda que indiretamente, que o efeito esteja aí¿, justifica o governador, que já tem na prancheta uma forma de viabilizar essa relação: o lançamento de uma ¿rede de desenvolvimento integrado¿, como apregoado na campanha.

Em entrevista exclusiva ao Correio/Estado de Minas na recém-inaugurada Cidade Administrativa, Anastasia promete um governo de continuidade ao do antecessor e padrinho político, o senador eleito Aécio Neves (PSDB), com avanços em áreas fundamentais. Na saúde, pretende estruturar as redes de média e alta complexidades em cidades-polo, reduzindo a dependência do interior de atendimento na capital. Classifica a epidemia do crack como o ¿mal do século¿, cujo enfrentamento depende muito da colaboração do governo federal.

Qual é o grande desafio para os próximos quatro anos? Como todo desafio em política pública, é implementar plenamente um modelo, com as dificuldades que temos de escassez de recursos, que existe e permanentemente existirá. Sempre com a dificuldade de montar equipes, que isso é um drama no setor público do Brasil. Porque o setor público remunera mal no Brasil. Não dá muitos estímulos. Temos de combater isso, por meio de programas de qualificação de servidores. A nossa escola de governo é um modelo para isso. Então, o desafio é implementar de maneira correta essas ideias. Até porque são ideias que existem mundo afora. Não estamos aqui descobrindo a roda.

O senhor é conhecido pelo perfil técnico. Na campanha, tomou gosto pela política? Sempre achei completamente artificial essa separação entre político e técnico. As pessoas que têm função técnica e pública têm evidentemente competência política. E outros que são políticos têm competência técnica, que é o conhecimento dos assuntos. Quando, na campanha, alguém me criticava: ¿Ah, ele é técnico¿, eu tomava como elogio. Significa que eu tenho conhecimento sobre os assuntos, e a competência e sensibilidade políticas são decorrentes do exercício e da nossa experiência.

Como será o seu relacionamento com a presidente Dilma? Acredito que será bom. Republicano, federativo, a presidente é uma pessoa que é ¿ além de ser mineira, e isso facilitará, espero eu ¿ preparada, intelectualmente instruída e naturalmente conhece quais são as competências do governo federal, estadual e dos municípios. Temos 10 grandes estados do Brasil governados pela oposição. Não acredito que haja qualquer tipo de retaliação. Nem dela em relação aos governadores nem dos governadores em relação à presidente. Ao contrário, haverá um entendimento administrativo, o que não significa que não haverá oposição.

Tem muita gente dizendo que Minas será um foco de resistência da oposição... Não há dúvidas de que Minas (tem oposição), até em razão de nossa liderança no Senado ¿ senador Aécio, senador Itamar, senador Eliseu ¿, de uma grande bancada de deputados federais majoritariamente em oposição ao governo federal. Mas isso não significa que vamos agir contra os interesses do Brasil.

Quais devem ser as ações imediatas do governo federal em relação a Minas Gerais? São aquelas que já sabemos que o governo federal está em débito há muitos anos. A primeira delas, repito, é duplicar a rodovia de Belo Horizonte a Governador Valadares, que é um caso de humanidade. Deixou de ser um caso de interesse econômico, de articulação de desenvolvimento, tornou-se a prioridade zero. Temos ainda obras importantes na Região Metropolitana de Belo Horizonte. As obras do metrô, o que na realidade não é nem obra, mas a permissão para fazermos uma parceria público-privada (PPP). Por outro lado, as obras do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, para resolver a questão da Copa do Mundo; o nosso Anel Rodoviário, que também enfrenta dificuldades; além da construção do Rodoanel.

O senhor pretende trazer a bancada do PMDB, adversário na campanha, para o governo na Assembleia? As eleições acabaram. Minas encerrou em primeiro turno. Eu fui reeleito com 62% dos votos, derrotando o candidato do PMDB, apoiado pelo PT. De minha parte, naturalmente, o que queremos é fazer um bom governo para Minas. Conversei com a bancada estadual do PMDB, até porque tenho muito respeito aos seus integrantes, conversamos longamente, de maneira altiva, com muita independência da nossa parte e deles, mas para termos ações que são de interesse do estado. Não vejo nenhuma dificuldade de conversarmos mais adiante, para termos aí projetos de interesse do estado.