Título: Para Aeronáutica, pista ainda não deve ser liberada para uso
Autor: Leo, Sérgio e Rittner, Daniel e Lyra, P. de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 20/07/2007, Especial, p. A4

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) recomendou que a pista principal do aeroporto de Congonhas ainda não seja liberada. A posição foi tomada mesmo após a constatação de que as condições da pista na hora do acidente do vôo 3054 da TAM eram normais.

O chefe do Cenipa, brigadeiro Jorge Kersul Filho, disse que nenhuma hipótese sobre a causa do acidente deve ser descartada, mas como a falta de ranhuras na pista é um possível problema, é "mais prudente" continuar fechada até que sejam estudadas suas condições de atrito. "Na fase inicial da investigação, nós não descartamos nenhuma possibilidade. Só posso antecipar que a pista estava dentro dos parâmetros previstos para uma operação normal", diz Kersul.

O índice pluviométrico na hora do acidente era de 0,6 milímetros, o que segundo o chefe do Serviço Regional de Proteção ao Vôo de São Paulo, coronel-aviador Carlos Minelli de Sá, pode ser entendido como "pingos esparsos de chuva". Sobre a reclamação do piloto do vôo 1697, da Gol , de que a pista estava escorregadia quase duas horas antes do acidente fatal, Minelli de Sá diz que foi realizado o procedimento adequado para a situação. A torre de comando pediu a suspensão das operações, a Infraero avaliou as condições da pista e, constatada segurança, liberou a pista. "Na conversa entre a torre de controle e a aeronave da TAM que se acidentou não houve nenhuma informação de anormalidade.".

O Cenipa também concluiu que o avião tocou o solo dentro dos limites de segurança. "Dá para identificar perfeitamente o toque da aeronave realizando o caminho contrário, a partir do ponto que ela saiu da pista", diz Kersul.

Uma equipe de engenharia da Aeronáutica do Rio de Janeiro vistoriou o material da pista durante a madrugada de ontem, com acompanhamento da Polícia Federal, para estudar as condições de atrito do solo. "Se for confirmado que está dentro dos padrões internacionais de operação, o que eu acredito, caberá ao órgão regulador liberar seu uso", diz Kersul.

O acompanhamento também está sendo feito pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), autarquia ligada ao governo paulista. Apesar de a Infraero ter anunciado que o IPT realizou auditoria sobre as obras nas pistas de Congonhas, o instituto esclareceu que seu laudo sobre as reformas ainda não está pronto. Foi realizada apenas a auditoria técnica das obras da pista auxiliar. Os relatórios finais sobre as reformas na pista principal "deverão ser encaminhados nos dias 27 de julho, 7 e 17 de agosto", segundo nota do IPT.

A análise dos dados das caixas-pretas do avião será adiantada, pois o material voltará ao Brasil no começo da próxima semana, entre segunda e terça-feira. A previsão inicial era que elas chegariam após a quarta-feira. Segundo Kersul, a Aeronáutica conseguiu junto à National Transportation Safety Board (NTSB) nos EUA, a antecipação da degravação das caixas. "Felizmente conseguimos que eles trabalhassem no sábado e no domingo para fazer esse levantamento."

As caixas foram mandadas para fora do país, porque o acidente as danificou e ainda não se sabe se isso impedirá o recolhimento dos dados. A partir daí, porém, é que começa a parte mais complicada do processo: a análise das informações gravadas pelos instrumentos de vôo do avião e as conversas na cabine.